Leônidas de Oliveira é secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais
O Carnaval tem origens remotas em festividades pagãs da Europa, como as Saturnálias romanas, e carrega elementos das culturas africanas e indígenas incorporados ao chegar ao Brasil. Desde o período colonial, a folia assumiu diferentes feições, passando pelas brincadeiras do entrudo – em que farinha, água e tintas se misturavam nas ruas – até se abrir às influências da Corte portuguesa e aos ritmos que surgiram em nosso território.
Desse encontro, emergiu uma festa mestiça e plural, que celebra o novo sem abandonar o legado de antigas tradições.
A arte, em suas mais diversas formas, é a alma do Carnaval. Nas batucadas dos blocos, ressoa a herança africana; nos estandartes e fantasias, vemos traços indígenas, barrocos e contemporâneos; nos carros alegóricos e intervenções urbanas, percebemos o diálogo entre passado, presente e futuro.
Há espaço para marchinhas, sambas, axés, frevos, funk e até batidas eletrônicas, numa prova de que o Carnaval se renova a cada ano. Esse período de liberdade e criatividade transforma-se em um grande festival de artes integradas, unindo dança, pintura, teatro, grafite, moda e design em comunhão coletiva.
Em Minas Gerais, o Carnaval ganha particularidades únicas, sobretudo por sua diversidade geográfica e cultural. Além das famosas Ouro Preto e Mariana, outras cidades carregam brilho e identidade próprios na folia. Diamantina revela, em suas ladeiras coloniais, noites inesquecíveis ao som das fanfarras e blocos locais, numa atmosfera que mescla história e modernidade.
Bonfim valoriza tradições familiares e a herança do congado, transformando a festa em um encontro de religiosidade, cultura e confraternização. Já Januária, banhada pelo Rio São Francisco, apresenta um Carnaval ribeirinho que conecta as manifestações populares à paisagem natural, agregando ritmos regionais e a hospitalidade típica do Norte de Minas.
Belo Horizonte, por sua vez, vive uma autêntica explosão carnavalesca nos últimos anos. A capital, antes discreta no período, tornou-se referência em blocos para todos os gostos: do rock à percussão afro, do samba às fusões eletrônicas. É uma dinâmica dialética que une tradição e inovação, emoldurada pelos casarões antigos e pelos novos grafites.
Assim, a cada esquina, a cultura popular se encontra com experimentações artísticas, impulsionando a economia criativa, o turismo e a imagem de Minas como polo cultural.
O Carnaval contemporâneo mineiro reflete uma convergência histórica e futurista: preserva as raízes seculares, enquanto abre as portas para expressões do presente e possibilidades do futuro. Nas ruas das cidades, com suas festas, blocos e encontros multiculturais, percebe-se que o Carnaval não se limita a uma mera comemoração, mas funciona como um símbolo de liberdade, identidade e reinvenção.
Essa combinação de tradição e modernidade faz de Minas Gerais um dos centros mais expressivos do Carnaval brasileiro, onde todas as artes, ritmos e cores se unem para celebrar a vida e reafirmar a força da cultura popular.