Laerte Magalhães é CEO da Nuh! Digital

Quando falamos em inclusão digital no Brasil, é impossível ignorar a desigualdade de acesso que ainda marca profundamente o país. São milhares de escolas públicas sem conexão mínima para garantir o aprendizado básico. Famílias inteiras em comunidades onde a internet ainda é um luxo. O acesso à rede segue sendo, sim, um dos grandes desafios estruturais da nossa sociedade – e continua essencial.

Mas, à medida que o acesso avança, novos dilemas surgem. Porque conectar, por si só, já não garante transformação. É preciso garantir que as pessoas saibam usar essa conexão de forma segura, crítica e responsável. É aí que entra o letramento digital: como um aliado indispensável do acesso. 

Levar infraestrutura, redes integradas, inovação tecnológica é um trabalho árduo e que precisa ser diário. Na prática, a inclusão digital só é plena quando vem acompanhada de orientação – especialmente nas escolas públicas, onde professores precisam ter formação para usar a tecnologia de forma pedagógica e mitigar a exposição dos estudantes aos mais diversos riscos, como golpes, assédio, fake news e jogos de aposta.

Navegar com consciência e ética

Não basta estar online, é preciso saber navegar com segurança, pesquisar com consciência, comunicar com ética. A conexão amplia horizontes, mas deve-se cuidar para que ela não reforce vulnerabilidades. Isso tudo vai depender de como será usada.

Embora o acesso à conectividade nas escolas seja fundamental, é preciso refletir com cautela sobre a introdução precoce de dispositivos conectados, especialmente nos primeiros anos escolares. Uma pesquisa citada no “Jornal Nacional”, de maio de 2025, mostrou que a proibição do uso de celulares em escolas brasileiras resultou em melhora no rendimento dos alunos e redução de problemas de comportamento. O tema também é abordado pelo jornalista Johann Hari no livro “Geração Ansiosa”, que associa o uso excessivo de telas ao aumento dos níveis de ansiedade e distração entre crianças e adolescentes.

Cidadania digital

Portanto, mais do que acesso, é preciso planejamento. Isso inclui formação continuada de educadores, ambientes online protegidos, curadoria de conteúdo, orientação para as famílias e integração responsável da educação digital ao currículo – iniciativas que precisam caminhar junto com os investimentos em infraestrutura.

O acesso é o primeiro passo para a cidadania digital, mas é o preparo que transforma essa conexão em oportunidade real de desenvolvimento, autonomia e equidade.

O Brasil precisa urgentemente conectar todas as suas escolas, comunidades e jovens, mas também é necessário prepará-los para esse mundo conectado – com as ferramentas, os valores e os cuidados essenciais para que a internet seja uma aliada, e não uma ameaça.

O foco deve ser de unir acesso e educação, tecnologia e propósito, para que cada conexão leve, de fato, a um futuro mais inclusivo e menos desigual.