Alexandre Nicolini é educador, doutor em administração e especialista em gestão acadêmica e avaliação da aprendizagem

Há uma discussão em andamento no ensino superior brasileiro relacionada às condições de oferta de cursos novos e existentes – presenciais, semipresenciais e a distância – e à formação dos futuros professores. Esse debate, provocado inicialmente por um questionamento do MEC em relação à qualidade da Educação a Distância (EAD), trouxe à baila a necessidade de criação de um novo arcabouço para regulação da oferta de ensino superior em geral no país.

Assim, novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e um Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), inclusive com provas práticas, guiam as ações em busca de docentes mais capacitados. O MEC anunciou a possibilidade de oferecer uma bolsa-incentivo para futuros docentes e promover um concurso nacional unificado para a docência, inclusive tendo os resultados do Enade como critério de classificação.

Há muitas evidências da necessidade de melhoria tanto da oferta de EAD quanto da formação dos futuros docentes. O MEC nos mostra que, em pedagogia, 29,5% dos estudantes se formaram presencialmente em instituições de ensino superior que obtiveram notas 1 e 2 no Enade, percentual que subiu a 72,3% no caso do EAD. Ainda assim, a média de acertos nesse exame foi de somente 43,3% em IES públicas e 35% nas instituições privadas.

O cenário revelado por esses dados demonstra a necessidade de criação de novas formas de olharmos para o processo de ensino-aprendizagem, considerando o impacto da formação dos futuros profissionais no desenvolvimento econômico e social. Nunca foi tão necessário o ensino superior dar mais atenção à aprendizagem de seus estudantes, pois apenas boa infraestrutura e corpo docente titulado não asseguram boas avaliações pelos dados oficiais.

Organizações de todos os tipos procuram profissionais que tenham aprendido a lidar com as demandas atuais da carreira e as mudanças em curso no mundo. Entretanto, quando o IBGE mostra que o grau de instrução da população com ensino superior completo cresceu de 14% para 23%, entre 2012 e 2023, mas a taxa de produtividade do trabalho no Brasil avançou apenas 0,1% ao ano no mesmo período, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançam-se suspeitas sobre a qualidade dos profissionais que formamos.

Aprendizagens deficientes no ensino superior se transmutam em gestores públicos que não formulam boas políticas, médicos que não cuidam bem da saúde da população e engenheiros que não constroem obras seguras. Imagine isso acontecendo em todas as áreas de formação. Erros e retrabalhos minam tanto a produtividade quanto a segurança de todos os bens e serviços oferecidos no país.

Temos no Brasil pouca massa crítica sobre os processos de aprendizagem, especialmente quando falamos de educação profissional, que deveria estar muito próxima da prática em todas as carreiras. Uma das principais competências apontadas por estudiosos em educação é a capacidade de os estudantes em todos os níveis aprenderem a aprender. Essa aptidão deve ser tomada também, e principalmente, como regra para todas os especialistas que formam os futuros profissionais.

Precisamos ter certeza de que professores universitários aprenderam a ensinar seus estudantes e que coordenadores aprenderam a avaliar os progressos teóricos ou práticos que eles realizaram. Os alunos até podem ter sido estimulados a praticar durante a formação, mas quem assegura que eles de fato aprenderam?

O ensino superior precisa de um choque de profissionalismo na sua atividade principal. Todo o processo de aprendizagem nos cursos universitários ainda é muito empírico, quando deveria ser guiado pelo método científico. Mesmo os processos de autoavaliação universitários mal contemplam a evolução e as conquistas da aprendizagem como um resultado do seu trabalho.

Um professor que ensina não implica necessariamente um estudante que aprende. Em pleno século XXI, o ensino superior pouco trabalha coletando e analisando dados de aprendizagem dos estudantes para consolidar evidências que guiem o processo de aprimoramento dos seus projetos pedagógicos e métodos de aprendizagem.

É tempo de discutirmos como revisar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem a cada nova rodada de formação dos alunos, para que no futuro possamos colher impactos positivos na atuação dos futuros profissionais brasileiros.