Demetrio Aguiar e Henrique Frederico 

Engenheiro eletricista (*)  e jornalista da Cemig (**)

Com a eletricidade cada vez mais indispensável na sociedade moderna, os acidentes de origem elétrica têm crescido no Brasil nos últimos anos. Dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), divulgados recentemente, mostram que 840 pessoas perderam a vida no país no ano passado, além do crescimento de 11% nas ocorrências envolvendo choque elétrico bem como incêndios causados por sobrecarga de energia.

A situação dos choques elétricos é ainda mais crítica, com 1.077 casos registrados em 2024, resultando em um total de 759 mortes em função de choques elétricos, o maior número já documentado na série histórica da Abracopel, com um crescimento de 23,16% no período. As áreas mais perigosas continuam sendo as redes de distribuição de energia elétrica, sejam elas aéreas ou subterrâneas, nas áreas residenciais. Muitos acidentes ocorrem devido ao acesso indevido que culmina na aproximação ou contato acidental com a rede elétrica por indivíduos que não são profissionais da área, ao realizarem atividades próximas à fiação.

Nas residências, a principal causa reside na precariedade das instalações elétricas, muitas vezes desprovidas de dispositivos de proteção essenciais, como o Interruptor Diferencial Residual (IDR) e o condutor de proteção, popularmente conhecido como “fio-terra”. Além disso, a falta de qualificação de profissionais que realizam instalações e reformas elétricas em ambientes domésticos também contribui significativamente para esses acidentes. Há instalações que não têm nem disjuntores, nem interruptores para acender as luzes, e sequer utilizam plugues de tomada. Isso pode ser observado em residências precárias, obras civis informais e até oficinas mais simples.

A análise dos dados por faixa etária revela que a população adulta em idade produtiva, entre 21 e 50 anos, é a mais vulnerável a choques elétricos fatais. Crianças também figuram entre as vítimas, com um número preocupante de óbitos na faixa etária de 0 a 10 anos. No âmbito profissional, trabalhadores da construção civil e, surpreendentemente, técnicos eletrotécnicos e eletricistas estão entre os grupos com maior incidência de choques elétricos.
Em relação à série histórica de acidentes de origem elétrica desde 2013, apresentada no anuário, observa-se um crescimento constante no número total de ocorrências. No período, a Abracopel registrou 10.453 acidentes e 7.736 mortes. A letalidade dos incidentes impressiona, já que chega a 74%.

Para que esses números sejam reduzidos, é essencial que a população brasileira crie uma cultura de segurança com a rede elétrica. Além disso, é fundamental a qualificação profissional para trabalhos com eletricidade, assim como a utilização de materiais elétricos certificados e de qualidade, a manutenção periódica das instalações elétricas e a instalação de dispositivos de proteção, como o IDR. A norma técnica ABNT NBR 5410 estabelece a obrigatoriedade do IDR em circuitos que servem a áreas como banheiros, cozinhas e áreas de serviço desde 1997, mas, segundo dados do setor, cerca de 57% das residências do país não atendem aos requisitos básicos de segurança.

A eletricidade não tem cheiro, cor ou forma e não costuma dar uma segunda chance em caso de acidentes. Portanto, qualquer descuido ou uma má condição da instalação elétrica pode causar um acidente de gravidade que, se não ocasionar morte, deixará sequelas irreversíveis. A segurança elétrica não é apenas uma recomendação, mas sim uma necessidade vital e uma responsabilidade coletiva. O bem maior do ser humano é a vida, e não devemos arriscá-la para economizar em situações que envolvem a rede elétrica.