Duda Salabert é deputada federal, mãe e professora
A serra do Curral, mais importante ícone natural de Belo Horizonte, tem sido alvo de uma mutilação sistemática promovida pela mineração predatória, muitas vezes com a conivência dos Poderes Executivos estadual e municipal. Ambientalistas denunciam que essa exploração ocorre por meio de licenciamentos eivados de vícios, que naturalizam uma prática criminosa. Nos últimos dias, a destruição de uma caverna em Ouro Preto, ocultada dos estudos ambientais utilizados no licenciamento de uma mineradora, ganhou repercussão nacional. A gravidade desse fato me levou a acionar a Polícia Federal, que já abriu uma investigação.
Na serra do Curral, a história se repete. A lista de condutas criminosas cometidas por mineradoras é extensa. O histórico da região revela um amplo uso de informações falsas, distorcidas ou incompletas nos estudos ambientais apresentados para obtenção de licenças. Um dos casos mais escandalosos envolveu a omissão da presença do Quilombo Manzo em uma área afetada por um projeto minerário, o que levou à suspensão judicial das licenças.
Outras mineradoras foram alvo da operação Poeira Vermelha, da Polícia Federal, que investigou o uso de informações fraudulentas para mascarar a extração ilegal de minério, camuflada sob falsas terraplenagens e pela omissão de informações sobre a presença de vegetação da Mata Atlântica e do Cerrado, comprometendo a biodiversidade local e afetando negativamente os recursos hídricos essenciais para a região. Essas práticas resultaram em danos ambientais severos e na degradação de uma paisagem que integra a história e identidade de Belo Horizonte.
Recentemente, estive na área que foi explorada pela mineradora Empabra, que desde 2003 tem a obrigação de recuperar ambientalmente a mina Corumi. O que encontrei foi um cenário de total abandono, um empreendimento-fantasma que deixou um passivo ambiental bilionário sem qualquer medida efetiva de remediação.
Este ano será decisivo para a luta em defesa da serra do Curral, cujo processo de tombamento integral segue paralisado pelo governo Zema – uma decisão que atende exclusivamente aos interesses minerários e imobiliários. Paralelamente, vejo com preocupação a ascensão de iniciativas de “greenwashing”, promovidas por ambientalistas de ocasião. É público e notório que o setor minerário possui um modus operandi baseado na cooptação e convencimento social, utilizando figuras públicas com grande capilaridade para gerar uma falsa sensação de sustentabilidade e compromisso ambiental.
É essencial que as entidades ambientalistas sérias ocupem esse espaço de disputa pelo destino da serra do Curral, independentemente da presença da mineração.
Em minhas andanças, recebo constantes agradecimentos pela atuação na defesa da serra do Curral. Faço o que está ao meu alcance: denuncio irregularidades, pressiono por fiscalização mais rigorosa e mobilizo a sociedade para proteger esse patrimônio inestimável. Mas essa luta precisa ser de todos. Se queremos garantir que as futuras gerações possam desfrutar da beleza e riqueza ambiental da serra do Curral, precisamos agir agora.
Por fim, lanço uma pergunta: quem pagará pelo prejuízo de cerca de R$ 832 milhões causado pela máfia que age na serra do Curral? O valor astronômico foi levantado na última semana pela operação Parcours, da Polícia Federal, em conjunto com a Controladoria Geral da União, que executou 14 mandados de busca e apreensão contra agentes da Agência Nacional de Mineração (ANM) e geólogos ligados à Empabra na mina Corumi. Essa resposta não pode ficar em aberto, e a investigação precisa ser feita ao rigor da lei.
O futuro da serra do Curral e de Belo Horizonte depende disso.