Jorge Vargas é CEO da BHub

As Reuniões de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) consolidam-se, anualmente, como um dos epicentros do debate econômico global. É neste fórum privilegiado que líderes mundiais, economistas e representantes da sociedade civil se reúnem para discutir os rumos da economia, políticas de desenvolvimento e a estabilidade financeira. Neste ano, um tema de particular relevância ganhou destaque: o financiamento para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), abordado no painel “Boosting Small and Medium Size Business Finance for Growth and Job Creation”.

A importância da discussão é inegável. Esse grupo de organizações é a espinha dorsal de inúmeras economias, representando mais de 90% dos negócios globais e sendo responsáveis por uma fatia superior a 50% dos empregos formais no mundo. No Brasil, esse protagonismo se repete. Segundo o Sebrae, as PMEs respondem por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e geram mais de 50% dos empregos com carteira assinada.

Apesar de seu faturamento ter crescido em 4,5% em 2024, segundo o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs, superando o desempenho do PIB, e de vermos milhares de novas pequenas e médias empresas surgindo diariamente, essas organizações ainda enfrentam uma acentuada desigualdade no acesso ao crédito, um obstáculo crítico para seu crescimento e, por consequência, para a geração de mais empregos e prosperidade. O cenário se torna ainda mais desafiador diante da crescente concentração econômica impulsionada pelo avanço acelerado de tecnologias como a inteligência artificial. Embora tragam ganhos de produtividade e novos modelos de negócio, essas inovações tendem a favorecer grandes players já consolidados, ampliando as barreiras para as PMEs, justamente as responsáveis pela maioria dos empregos no mundo.

Nesse contexto, foi especialmente valioso observar a convergência de ideias durante o painel. Debatemos intensamente a integração de tecnologias, o papel disruptivo das fintechs e a necessidade de iniciativas públicas robustas para fortalecer o ecossistema. A experiência internacional demonstra que a colaboração entre o setor público e o privado é fundamental.

Isso porque governos podem criar o arcabouço regulatório e os incentivos necessários, enquanto o setor privado, incluindo bancos tradicionais e as novas financeiras digitais, pode perfeitamente desenvolver produtos e serviços inovadores, mais ágeis e adequados às realidades das pequenas e médias empresas. Discutiu-se bastante a importância de modelos que aliem eficiência tecnológica, redução de custos e escalabilidade, tornando o acesso ao capital mais democrático e sustentável. 

No entanto, ao olharmos para o Brasil, os desafios se avolumam. O alto custo do capital ainda é um entrave significativo, somado a uma burocracia persistente que consome tempo e recursos preciosos. Observamos também uma concentração de investimentos em perfis de negócios já estabelecidos ou considerados "de elite", deixando à margem uma vasta gama de empreendedores talentosos com grande potencial.

A falta de alternativas de financiamento acessíveis e diversificadas é gritante, evidenciando um problema estrutural onde muitos negócios promissores não sobrevivem aos seus primeiros cinco anos. Torna-se, portanto, urgente a criação de um ambiente mais inclusivo e sustentável para os pequenos negócios no Brasil.

Esse ambiente mais saudável passa, entre outras medidas, por incentivos fiscais mais inteligentes, pela simplificação de processos e, principalmente, pela redução das barreiras estruturais que perpetuam a dificuldade de acesso a crédito. Precisamos aprender com as boas práticas internacionais que fomentam garantias de crédito, plataformas de crowdfunding regulamentadas e venture capital voltados para estágios iniciais.

Desafios à parte, entendo que a presença brasileira em eventos globais do porte das Reuniões de Primavera do Banco Mundial e FMI, discutindo ativamente soluções para desafios tão complexos, demonstra que há, sim, inovação e capacidade de reflexão em nosso país. Contudo, essa participação também nos lança um olhar crítico sobre o quanto ainda precisamos avançar.

Aos empreendedores brasileiros, deixo uma mensagem de persistência. Os desafios locais são muitos, mas a capacidade de impacto e a visão global devem ser os motores para superá-los. Que possamos, juntos, construir um futuro onde o acesso ao capital não seja um privilégio, mas um direito de todos que ousam empreender e gerar valor para a nossa sociedade.