Eis que Donald Trump, do alto de sua rede social preferida, decidiu inovar nas relações diplomáticas: anunciou que, se o STF condenar Jair Bolsonaro, o Brasil será “premiado” com um aumento de 50% nas tarifas de importação para seus produtos. Aparentemente, o governo dos Estados Unidos quer regular nossa Justiça com base em tabela alfandegária.
A mensagem, apresentada como uma carta a Lula (publicada, claro, nas redes, porque é assim que se faz diplomacia em 2025), não deixa dúvidas: Trump está de olho no Brasil. Mas não exatamente por causa da Amazônia, do suco de laranja ou da soja. É Bolsonaro que o move. Política rasa, mesquinha.
A proposta é simples: ou o STF alivia para Bolsonaro, ou o agronegócio e o setor minerossiderúrgico brasileiros pagam a conta. É o famoso “ou vai, ou Trump”. Nada de tratados multilaterais nem sanções aprovadas por organismos internacionais. Basta um post, e pronto: ameaças tarifárias como se fossem promoção de Black Friday.
É como se quem comanda o tráfico em uma comunidade anunciasse que vai cobrar mais caro pelo gás porque não gostou da prisão de seu amigo. A polícia prendeu, os moradores pagam o preço.
O tom moralista impressiona. Trump, que enfrentou dois processos de impeachment, que é réu em dezenas de ações e que incentivou a invasão do Capitólio, agora se posiciona como guardião global da justiça. Talvez ele só não tenha sido mais direto: “Se o Brasil ousar aplicar sua Constituição, sofrerá represálias”.
O mais curioso é o cálculo político embutido. Trump acena ao bolsonarismo radical, faz média com o eleitorado ultraconservador latino e ainda reforça sua narrativa de perseguição política. Com isso, exporta sua teoria da conspiração, desinformação e interferência externa. Tudo com selo “Made in Maga”. E quem pagará a conta? Os produtores, empresários e empregados da cadeia do agronegócio exportador.
O Brasil, por sua vez, tem dois caminhos: ignorar a provocação, não respondendo à mensagem, ou fazer como JK fez em 1958, quando o vice-presidente americano, Nixon, foi recebido no Peru e na Venezuela com manifestações agressivas, e, em represália, os USA ameaçaram mandar tropas para a região. O presidente brasileiro enviou, por via diplomática, carta ao presidente Eisenhower afirmando que a América Latina não precisava de armas, mas de desenvolvimento. Questionado pelo ministro das Relações Exteriores sobre a impropriedade de sua iniciativa, JK, com ironia, reagiu: “Se o presidente se recusar a responder à minha carta, eu declaro guerra aos Estados Unidos”.
Diplomacia virou rede social, e o comércio exterior, ameaçado, objeto de política. Ah, eu ia me esquecendo: Estados soberanos e independentes, equilíbrio e separação dos Poderes e o princípio da não intervenção são coisas do acordo de Westfália (1648!), anterior, portanto, à independência dos Estados Unidos (1776). Quem sabe Trump não volta atrás? Não seria a primeira vez. A ver.