Mauro Werkema é jornalista e historiador
“O futuro não é mais como antigamente”. Essa constatação reflete a perplexidade perante as transformações em curso em todo o mundo e com alcance na vida de todos. E Minas Gerais está inserida nessa realidade. O estado deve sua origem e seu nome à riqueza do seu subsolo. Nos anos finais do século XVII, os primeiros exploradores, pioneiros na ocupação do território interior do Brasil Colônia, até então praiana, inicialmente vindos da Província de São Paulo, buscavam pedras preciosas e encontraram ouro e diamante. Inicia-se o Ciclo do Ouro, que nos legou, pelo menos, as cidades históricas, hoje inscritas pela Unesco como Patrimônios Culturais da Humanidade. Atualmente vivemos o Ciclo do Ferro, com a mineração e a transformação siderúrgica.
Ocorre que, em surpreendente desafio, a riqueza mineral de Minas tem novos componentes com os chamados “minerais críticos” e “terras-raras”, altamente cobiçados por todo o mundo por sua raridade e alto valor, essenciais à revolução tecnológica e à renovação energética, já em curso. Minas e seu subsolo tornam-se objeto de cobiça internacional, já com vários pedidos de lavra.
É essencial, no entanto, com urgência, qualificar-se para bem aproveitar esse novo ciclo mineral. E que a exploração dessas novas riquezas não represente mais um ciclo de espoliação mineral que a história mineira registra e que se prolonga, em várias ocorrências, até nossos dias.
As concessões, que envolvem o governo federal, exigirão cuidados e ações objetivas, políticas, governamentais e empresariais para que sua exploração represente efetiva riqueza para os mineiros. E com capacidade para tirar Minas Gerais da falência orçamentária e financeira com sua imensa dívida. Pesquisas atuais apontam que o estado tem as maiores ocorrências desses minerais nobres do Brasil, que, por sua vez, ocupa a segunda posição no mundo. E esses minerais são essenciais na nova conformação industrial e tecnológica como condutores de calor e eletricidade, magnéticos, construtores de ligas, para vários ramos da indústria contemporânea, automotiva, aeronáutica, de drones e telecomunicações, de computadores e armamentos da nova guerra eletrônica, em alta demanda na nova geopolítica mundial.
Mas, é preciso lembrar, são minerais que exigem investimentos elevados para serem encontrados, extraídos e processados, o que obriga a desmontes elevados na mineração. É indispensável negociação, autônoma e patriótica, com os investidores, para que os interesses mineiros e de regiões e cidades mineradas sejam observados, assim como as questões sociais e ambientais.
Duas empresas canadenses, sob licença governamental, já operam no Vale do Jequitinhonha, chamado de “Vale do Lítio”. E já se propaga que, além de Araçuaí e Itinga, já mineradas, outras cidades possuem minerais raros, como Coronel Murta, Itaobim, Jenipapo de Minas, Pedra Azul, Salinas e Taiobeiras. Em Minas, Araxá, Poços de Caldas e Tapira, chamadas “chaminés vulcânicas”, já exploram terras-raras. O nióbio em Araxá, e em Poços e Tapira, as terras-raras. Poços já retirou urânio, e césio já foi encontrado no Vale do Jequitinhonha. Estudos geológicos indicam grandes possibilidades de ocorrências dos 17 minerais das terras-raras em algumas regiões de Minas Gerais.
Esta é uma realidade que já se coloca em meio à revolução tecnológica que muda o mundo, mas que exige uma agenda política e econômica bem-elaborada e altiva, com a visão de que essa nova oportunidade para o estado permita, de fato, efetivas riquezas para os mineiros. E, até, um ciclo saudável de recuperação de uma dívida antiga dos mineiros com a exploração de suas riquezas minerais sem justa retribuição.