Riviane Borghesi Bravo é psicóloga e professora do curso de psicologia da Newton Paiva Wyden
Recentemente, a discussão sobre a adultização da infância voltou à tona depois que um youtuber e influenciador digital denunciou a exposição de crianças e adolescentes na internet. Não é a primeira vez que o tema mobiliza as redes sociais, revelando os graves riscos desse fenômeno.
Apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente ser um instrumento legal e poderoso para proteger essa população, a fiscalização no ambiente digital ainda é insuficiente. A internet se tornou um terreno fértil para abusos, exploração comercial e violações de direitos, exigindo atenção redobrada da sociedade e dos órgãos competentes.
Para compreender a urgência dessa proteção, é importante olhar para a história. Antes do século XVIII, o conceito de “infância”, como o entendemos hoje, sequer existia. Crianças eram vistas como “adultos em miniatura”, desprovidas de importância social própria. Foi apenas entre os séculos XIX e XX que a infância passou a ser reconhecida como uma fase singular, marcada por direitos e necessidades específicas, e ganhou proteção legal e social.
Esse reconhecimento, no entanto, parece ser constantemente ameaçado. A adolescência, por exemplo, já é uma etapa em que os limites entre o mundo infantil e o adulto se confundem. Quando expostos precocemente à lógica da superexposição digital, esses jovens perdem referências fundamentais para a construção da identidade e do amadurecimento emocional.
Os riscos são claros:
– Impactos emocionais e psicológicos: a pressão para manter uma imagem “perfeita” e a busca por aceitação geram problemas de autoestima, ansiedade e depressão.
– Vulnerabilidade social: a interação com desconhecidos em ambientes digitais amplia as chances de abusos e manipulação.
– Comprometimento da identidade: muitas vezes, crianças passam a interpretar um “personagem” criado por adultos, anulando sua espontaneidade.
– Atraso no desenvolvimento cognitivo: o lobo pré-frontal, responsável pelo planejamento e controle de impulsos, só amadurece por volta dos 25 anos. A exposição precoce pode comprometer esse processo.
Em resumo, infância e adolescência são fases que demandam cuidado, supervisão e responsabilidade coletiva. Nenhuma criança ou adolescente tem plena autonomia para lidar com a lógica da exposição digital. Cabe aos pais e responsáveis estabelecer limites, educar para o uso consciente e, sobretudo, proteger – ainda que isso signifique frustrar desejos imediatos. Afinal, preservar o tempo da infância é garantir que ela não seja roubada por interesses externos, mas vivida em sua plenitude.