Convenhamos, leitor, o ano de 2024 foi – de modo geral – um ano difícil. Talvez atípico. Não é fácil escolher as piores notícias de 2024. A meu ver, a pior de todas já faz parte da história. As consequências dos vândalos no dia 8 de janeiro poderiam ter sido piores se ocorresse intervenção em nosso Estado Democrático de Direito. Mas nossas instituições funcionaram e as Forças Armadas disseram não à tentativa de golpe de Estado, com o qual tanto sonhou Jair Bolsonaro.

As chuvas torrenciais e as enchentes no Rio Grande do Sul ocupam o segundo lugar. Os gaúchos ainda sofreram, no finalzinho do ano, com o também trágico acidente ocorrido com o bimotor do empresário Luiz Cláudio Galeazzi (do qual era o piloto), que caiu no centro de Gramado e deixou 10 mortos. Sete eram da mesma família.

A terceira pior notícia (para ficar só em três) aconteceu em Minas Gerais, na madrugada de um sábado, 21 de dezembro, na BR–116, próximo à cidade de Teófilo Otoni, que foi palco de mais outro trágico acidente, no qual se envolveram um ônibus, uma carreta, cujo motorista desapareceu do local, e um automóvel. O motorista foragido, que não se preocupou com as vítimas, depois se apresentou à Polícia. Morreram 41 pessoas, 25 carbonizadas pelo fogo que destruiu totalmente o ônibus.

Felizmente, porém, sempre sobra espaço para pelo menos uma boa surpresa. Aliás, era ela que deveria ser a causa primeira destas linhas, mas fui tragado pela dura realidade de um país que precisa entrar nos eixos. É preciso lembrar ao presidente Lula de que a frente democrática que o elegeu exige ação e atitude. Que explicação tem para as mortes provocadas pelo recém-desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira (condenada há meses), que liga os estados do Maranhão e Tocantis? Por que o DNIT não a interditou?

Finalmente, aqui vai a boa surpresa, leitor. Recebi de um velho amigo, recentemente, um vídeo contendo histórias de um grande brasileiro. Participaram do vídeo, além da apresentadora, dois advogados. Só um deles conheceu, pessoalmente, o notável brasileiro.

O enfoque do programa era o mineiro de Barbacena Heráclito Fontoura Sobral Pinto. O Dr. Sobral morreu no Rio de Janeiro aos 98 anos (5/11/1893 a 30/11/1991). Católico praticante, e considerado “um homem que não tinha preço”, tornou-se o defensor dos direitos humanos. Notabilizou-se como o defensor dos perseguidos políticos, na ditadura do “Estado Novo” e na ditadura militar, a partir de 1964. Não aceitou a indicação, que seria feita pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O motivo? Havia defendido a ameaçada posse de JK. Foi advogado de Luiz Carlos Prestes no levante comunista de 1935. E, no caso do alemão Harry Berger, que foi preso e torturado, apelou para a Lei de Proteção aos Animais. Participou das “Diretas Já” e do histórico comício da Candelária.

As histórias do Dr. Sobral me fizeram recordar de homens públicos – políticos ou não – que souberam honrar o nosso país.
E é deles que necessitamos hoje. E eles existem.