Um velho amigo, que costuma ler semanalmente estas linhas, me telefonou logo depois que Fernanda Torres conquistou o inédito prêmio Globo de Ouro momo Melhor Atriz em Filme de Drama, por sua atuação no tristíssimo filme de Walter Salles “Ainda Estou Aqui”. Dizia-me repetidamente, em voz embargada pela emoção, que, naquele instante de glória, brilhou, sobretudo, o Brasil e, com certeza, as suas artes e a sua cultura.
“O Brasil tem jeito – gritava ele –, mas nosso complexo de vira-lata não nos deixa enxergar o que de fato somos”. Ao ouvir o desabafo, leitor, fui imediatamente contaminado pela emoção.
Disse-me meu amigo a pura verdade.
Uma semana antes do anúncio do prêmio, já dizia a amigos que o filme de Walter Salles – uma produção perfeita sob todos os aspectos – não ficaria só em aplausos, mas traria aos brasileiros e ao mundo uma grande surpresa. A partir daquela noite, o mundo teria a chance de conhecer melhor o nosso país e, apesar dos contratempos, a nossa real vocação pela liberdade e pela democracia.
Aguardemos agora que venha a indicação para o Oscar. Segundo notícia do “Estadão” de terça-feira, o filme já foi selecionado entre os pré-indicados, mas a lista definitiva só sairá no dia 17 de janeiro. Isso sem falar que o filme está pré-selecionado para o Oscar britânico (Bafta), mas Fernanda Torres, infelizmente, ficou de fora.
“Ainda Estou Aqui” surge em instante delicado no mundo e, em especial, no Brasil, que sofreu, há dois anos, no dia 8 de janeiro de 2023, uma ameaça de golpe de Estado, afinal contida pelas nossas instituições. E a avaliação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro influiu nessa malsinada tentativa, cresceu entre os seus eleitores, segundo pesquisa Quaest publicada pelo jornal “Estado de São Paulo” no último dia 6 de janeiro.
E tem mais, leitor. É bom saber que a mesma pesquisa Quaest mostra que mais de 80% dos brasileiros desaprovam os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro, vale dizer, já fizeram sua opção pela liberdade e pelo regime democrático.
Digo isso com alegria e alívio, mas também com grande preocupação. Pertenço a uma geração que viveu tempos tenebrosos durante a ditadura militar – de pavorosa memória –, que se instalou no país a partir do golpe de Estado de 1964.
É bom lembrar, enfim, que a ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, já indiciado pela Polícia Federal – que continua investigando e a cada dia nos traz novos detalhes – pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, apenas aguarda a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), que certamente virá, segundo nossos melhores juristas, para que o processo suba ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Que a Justiça puna os verdadeiros golpistas!