A aliança entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, apoiada, ainda em conversas, em vários dos nossos estados, com vistas à candidatura do primeiro à Presidência da República em 2026, exige de ambas as partes uma virtude essencial em política – a confiança. A sua ausência, com certeza, (e não falta quem lhe chame a atenção para isto), assusta o governador paulista, que não desconhece as dificuldades que o seu estado – o mais populoso e mais rico da Federação – tem para eleger um presidente da República. Ao longo de muitos anos, é extensa a lista de derrotados.
Na última segunda-feira, o jornal “O Globo”, de forma talvez ardilosa, publicou a seguinte legenda na foto de Tarcísio e Bolsonaro por ocasião do ato público “Justiça já”, convocado pelo segundo na avenida Paulista: “Aliados, mas com desconfiança”. É bom frisar, também, que esse ato foi o que reuniu o menor número de pessoas – apenas 12,4 mil – desde que o ex-presidente deixou o governo.
Na matéria publicada em “O Globo”, da qual faz parte a foto citada, segundo relata a repórter Camila Turtelli, “o gabinete de Tarcísio tem sido destino obrigatório para lideranças de direita”. Vale dizer, pelo menos na intimidade, que a sucessão de 2026 já começou. Por um lado há bolsonaristas radicais que, diante da inelegibilidade de Bolsonaro até 2030 (ele ainda será condenado em outros processos), pressionam para que o apoio a Tarcísio se concretize rapidamente.
Todavia, políticos que frequentam o gabinete do governador entendem que sua candidatura, para deslanchar, teria que contar com o centro e a direita democrática, o que atrairia também, quem sabe, os eleitores da esquerda democrática, que não votariam nem em Lula, nem em Bolsonaro, nem em quaisquer candidatos por eles indicados.
Se as conversas sobre sua candidatura à Presidência em 2026 não chegarem ao ponto que de fato almeja, o governador paulista, aos 50 anos, optará pela sua tranquila reeleição ao governo do Estado, deixando para 2030 o sonho de ser presidente. A isso, aliás, já se referiu o presidente do PSD, além de secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab, em entrevista recente à “Folha de S.Paulo”.
Se o apoio apenas de Bolsonaro pode prejudicar a candidatura de Tarcísio, entre os mineiros ocorre algo semelhante. O apoio do presidente à possível candidatura de Rodrigo Pacheco ao governo de Minas – já declarado por ele mais de uma vez –, tendo em vista as circunstâncias eleitoralmente difíceis por que passa o PT no estado de uns tempos para cá, poderá, afinal, contribuir para a derrota do senador.
Matéria do jornal O TEMPO de anteontem, assinada pelo repórter Gabriel Ferreira Borges, deixa a entender que Pacheco já teria conversado com o presidente sobre a vinculação do PT à sua candidatura. E que Lula “não teria feito objeções” nem “exigido espaço para o partido como contrapartida ao apoio à candidatura do senador”.
É provável que, a partir do próximo mês de outubro, leitor, as conversas em torno das eleições de 2026 ganhem mais luz.