Na quarta-feira da semana passada, ao lado de velhos amigos que integram, semanalmente, a agradável “mesa do vinho”, que há dezenas de anos reúne um grupo de sócios do Clube Campestre Belo Horizonte, e sem que já se soubesse o seu inteiro teor, um dos seus integrantes se referiu, entre estupefato e aflito, à carta que o presidente Trump acabara de endereçar ao presidente Lula. Na carta, publicada apenas em suas redes sociais, o norte-americano anunciou a imposição de tarifa de 50% ao Brasil. Trump não conhece nada de Brasil, mas se refere à ação contra o ex-presidente Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal, que se aproxima do seu final.
Trump inicia sua carta dizendo o seguinte: “Conheci e tratei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitava muito, assim como a maioria dos outros líderes de países”. A seguir, refere-se à razão da taxa imposta ao Brasil: “A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante o seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma desgraça internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!” (a ênfase é dele).
Continuou Trump em sua diatribe injusta e mentirosa, mas agora contra nossas instituições: “Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos, como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS E ILEGAIS (a ênfase é novamente dele) para plataformas de mídias sociais dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares, a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos EUA, separada de todas as tarifas setoriais”.
Peço desculpas a você, leitor, por ocupar espaço tão nobre para transcrever trechos de uma carta – repito – desrespeitosa e mentirosa. Desrespeitosa porque o presidente Lula só tomou ciência dela pelas redes sociais de quem a enviou. Mentirosa porque, nas relações comerciais entre os dois países, o superávit acumulado há mais de 15 anos (de US$ 410 bilhões) é a favor dos Estados Unidos, não do Brasil.
Pensando nas eleições brasileiras de 2026, cabe a pergunta: quem, afinal, ganhou ou perdeu com a grosseria de Donald Trump? Nos Estados Unidos, perdeu o povo americano, que não pode mais confiar em um presidente que usa o poder econômico do seu país com a intenção de botar fogo no mundo. A taxa imposta ao Brasil prejudicará os consumidores daquilo que há anos exportamos para eles.
No Brasil, perderam os integrantes da família Bolsonaro e, também, o governador Tarcísio de Freitas. Este sequer percebeu que São Paulo é o estado que mais sofrerá com a tarifa de 50% imposta por Trump. Ao procurar ministros do STF para pedir ajuda na liberação do passaporte do ex-presidente, a fim que ele pudesse celebrar, em nome do nosso país, um acordo sobre a tarifa de 50%, tornou-o um vassalo.
Enfim, ninguém ganhou com esse episódio macabro.