A escalada de desatinos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de ser extremamente preocupante, tem tudo para acabar mal. E esse mal, leitor, será ainda maior, com certeza, dentro do seu próprio país do que fora dele. Os tarifaços impostos a vários países abalarão a confiança que o mundo sempre depositou, sobretudo, na sua até então respeitada democracia. Nunca passou pela cabeça de qualquer brasileiro que o povo norte-americano elegeria duas vezes um presidente autoritário e que trabalharia contra a globalização.

A sua última “ordem imperial” foi contra Washington. Após afirmar que, lá, “o crime está fora de controle” – embora os dados indiquem que o índice de crimes violentos é o menor em 30 anos –, mandou recolher os sem-teto, aos quais, segundo ele, “serão oferecidos lugares para ficar, mas longe da capital”. Em seguida, anunciou intervenção federal de 30 dias na cidade, cujo prefeito é filiado ao Partido Democrata. Desde 11/8/25, o governo federal assumiu o policiamento local com a presença de 800 policiais da Guarda Nacional.

Mas o que Trump fez (e está fazendo) ao Brasil, primeiro com a imposição de uma tarifa de 50% e, agora, com a volta à estaca zero de qualquer chance de diálogo com ele ou com o secretário de Tesouro, Scott Bessent, não tem nada igual no mundo. Até à China foi concedida uma trégua de mais 90 dias. Ao governo brasileiro, então, só cabe ajudar os nossos setores mais afetados, mas com dosagem no remédio. Se não for prudente na dosagem, o remédio poderá nos deixar, sobretudo em relação ao equilíbrio fiscal do país, ainda mais doentes.

Além da possibilidade de propiciar sérios danos à nossa economia, Donald Trump insiste em se meter em nosso Poder Judiciário, desrespeitando nossa soberania e, o que é pior, com a ajuda do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que fugiu para os Estados Unidos, onde sua ação deletéria contra o seu país conta com o apoio de Paulo Figueiredo, que é neto do ditador João Baptista de Figueiredo.

É bom sempre lembrar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), pai do deputado federal citado, durante todo o seu mandato, nunca pensou noutra coisa senão na desestabilização das nossas instituições democráticas, com vistas ao que sempre desejou, ou seja, impor ao país uma ditadura plena e, quem sabe, a volta da tortura.

A cada instante surgem mais provas que confirmam a liderança de Bolsonaro na trama golpista. Anotação do coronel da reserva do Exército Flávio Peregrino, assessor do general Braga Netto, segundo matéria de uma página publicada em “O Estado de S. Paulo” na última segunda-feira (11/8), dá conta de que a intenção de Bolsonaro sempre foi a de permanecer no poder após a derrota eleitoral. Apreendido pela Polícia Federal, diz o jornal, “o celular do coronel continha mensagens sobre plano golpista e queixa sobre a falta de lealdade do ex-presidente com militares aliados”.

Todavia – dizem os advogados de defesa –, tudo isso, leitor, “nunca passou de ideias formuladas pela liberdade e expressão”.