Procurei descansar alguns dias, leitor, desta vez um pouco distante de Minas. Mesmo assim, em João Pessoa, na Paraíba, onde permaneci por apenas oito dias, não consegui me desligar do que ocorria em nosso país, mas, sobretudo, nos Estados Unidos, cujo regime democrático está sendo submetido agora à chefia autoritária de um presidente que se elegeu pela segunda vez. As incríveis e desafiadoras atitudes de Donald Trump despertam muito medo. No Brasil e no mundo.
Mas o que vem ocorrendo em nosso país, desde o primeiro dia do mandato do ex-presidente Bolsonaro (2019-2022), hoje filiado ao PL, mas que já passou por mais de dez partidos políticos, não é outra coisa senão um permanente combate às nossas instituições democráticas, reconquistadas a duras penas a partir da Constituição de 1988, promulgada depois de 21 anos de ditadura militar. Esse combate culminou no questionamento da eleição de Lula em 2022 e se concentrou na desmoralização do Supremo Tribunal Federal (STF) e de alguns dos seus ministros.
A prisão domiciliar agora imposta ao ex-presidente é tão somente o ápice de um movimento contra a liberdade, que obteve agora o inacreditável apoio de Donald Trump, apoio não só por meio da estúpida tarifa de 50% imposta ao Brasil (os prejuízos para os EUA serão, certamente, se não houver um provável recuo de Trump, ainda maiores do que os nossos), mas condicionando sua revisão à absolvição do “amigo” no processo que lhe move o STF.
Inacreditável, desrespeitosa e totalmente inócua, além da promessa de outras retaliações, foi a sanção imposta por Trump ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação contra a “trama golpista” de Bolsonaro e outros, com fundamento na Lei Magnitsky. Uma lei, aliás, que tem uma história respeitável, já amplamente divulgada entre nós.
Por outro lado, não posso deixar de me referir ao triste papel que coube ao deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos.
<CW-5>Um registro também importante diz respeito às tentativas de golpes fracassadas no Brasil. Segundo Rui Leitão, jornalista e escritor paraibano, articulista do jornal “A União”, de João Pessoa, “é interessante constatar que as tentativas lideradas por militares de baixa patente nunca deram certo”. Leitão cita o capitão de artilharia Siqueira Campos, com os seus 18 do Forte, em 1922; o capitão Luiz Carlos Prestes, em 1924 (e em 1935, com a Intentona Comunista); o levante dos tenentes do Exército, em Manaus, em 1932; o levante de Jacareacanga, no Pará, em 1955, contra a posse de JK; a Revolta dos Sargentos, em 1963, que contou com a participação de marinheiros, sargentos e suboficiais da Aeronáutica; e, finalmente, a “recente movimentação golpista liderada por um capitão expulso do Exército”.
Retirei o título destas linhas de uma frase de Flávio Bolsonaro, que saiu em defesa do pai e do irmão, mas a verdade é outra. O ministro Moraes foi ajudado, na sua última decisão, pela família do réu. O papel de vítima não cabe (nem nunca coube) a Jair Bolsonaro.