Na manhã friorenta da última sexta-feira, li em O TEMPO uma matéria sobre a entrevista do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot a “O Estado de S. Paulo”. Nela, afirma que planejou matar o ministro Gilmar Mendes e, depois, suicidar-se. Para isso, entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma pistola na cintura, mas, “tocado pela mão de Deus”, acabou por não cumprir aquilo a que se propusera.
A revelação do ex-procurador é mais um sinal, leitor, dos tempos bicudos nos quais vivemos hoje. O mineiro Rodrigo Janot nasceu em Belo Horizonte e estudou direito na UFMG. Ingressou no Ministério Público Federal em 1984. Pelo critério da lista tríplice, foi escolhido procurador geral pela então presidente Dilma Rousseff em 2013. Reconduzido ao cargo em 2015, deixou-o, definitivamente, em 2017. Esqueceu-se, todavia, de que o posto que antes ocupou exige do seu dono no mínimo dois exercícios diários – o da razão e o da sensatez.
Que mais falta acontecer neste país? Eu sei: a ameaça de morte ficou apenas na ameaça. Ela, porém, não partiu de um cidadão qualquer, mas de um procurador geral da República, cujo poder de que dispõe no cargo é quase ilimitado. A ameaça foi dirigida contra um ministro do Supremo, que também já presidiu a Corte!
Terminada a leitura do jornal no qual saem publicadas estas nem sempre bem-traçadas linhas – mais sofridas do que outras que no passado tentei rabiscar –, concluí que o Brasil está mesmo totalmente exausto de tanto despautério. Tomado pela desesperança, retornei à habitual leitura de “O Estado de S. Paulo” e da “Folha de S. Paulo” (com incursão pelo “Valor”). São companheiros silenciosos dos quais não consigo me livrar. Dão testemunhos de um mundo de ódio e de sangue.
Depois de uma semana ruim, no Brasil e no mundo, termino estas linhas entre triste e perplexo. A decisão do Supremo na última quarta-feira, que fixou entendimento – correto, sem dúvida – sobre o depoimento de réus delatados, não pode prejudicar os ganhos obtidos até agora, tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista ético, pela operação de combate à corrupção.
Que a reunião marcada pelo presidente Dias Toffoli (escrevi esta coluna antes de sua realização), tenha ratificado a decisão, mas sem prejuízo da Lava Jato. Que os excessos cometidos por juízes e procuradores não invalidem, para o bem do país, os resultados positivos já alcançados. O STF precisa mostrar ao Brasil o que é uma verdadeira Corte Suprema.
Que saudades do tempo da (boa) velha política! O país só sairá do lugar se puder contar com a razão, a sensatez e a união.
Quem se atreve a dar o primeiro passo nesse sentido?