No último dia 7 comemoramos o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, essencial à democracia e às liberdades públicas. Um dia antes, tivemos a infausta notícia de que o jornalista britânico Dom Phillips, do jornal “The Guardian”, e o brasileiro Bruno Pereira, conhecido indigenista, servidor em licença da Funai, desapareceram em viagem a trabalho ao Vale do Javari, no Estado do Amazonas. Além das notícias de televisão, de rádio e de jornal, não se ouviu uma palavra consistente do governo, do presidente da República.
Abro um parêntese para dizer que não sei se, no instante em que redijo estas linhas, já se tenha notícia do paradeiro dos dois. O único registro aconteceu na manhã de domingo (5). Entidades ligadas aos povos indígenas, como a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e a Opi (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), afirmam que o indigenista já vinha sofrendo ameaças há algum tempo.
Na expectativa de que se esclareça rapidamente esse desaparecimento, que envolve um jornalista estrangeiro e um indigenista brasileiro (o contrário seria uma enorme vergonha para nosso país), passo para alguns assuntos que ocupam com insistência minha mente.
Há quem afirme, por exemplo, que o problema brasileiro, sobretudo a ausência de homens públicos de verdade, que trabalham pelo povo e por tudo aquilo que de fato lhe interessa, não é um fenômeno somente nosso. É mundial. Alguém pode até discordar, mas quais são os líderes – realmente notáveis – que temos hoje (refiro-me, sobretudo, aos países ricos) capazes de botar um ponto final na guerra da Ucrânia, que tem potencial para nos levar a um colapso mundial?
A política se tornou um jogo de ódio contra ódio
Tudo bem. O mundo está mesmo ruim, mas aqui, no Brasil (que é o país que de fato nos interessa), os péssimos ventos não param de soprar um só instante contra a liberdade desde a redemocratização, em 1945. À exceção de dois governos (o de JK e o de FHC), tudo piora a passos largos. A política se tornou um jogo de ódio contra ódio.
Se você, sem qualquer provocação, diz que não vota na reeleição de Jair Bolsonaro, o seu interlocutor sai-se logo com esta: “Ah, logo vi, você não passa de um petista corrupto”. Se você diz que não vota no Lula, o que ouve é ofensa também grave: “Ah, vê-se logo, você é bolsonarista de raiz, contra a democracia e a favor da volta da ditadura”.
Mais triste (ou trágico?) ainda é imaginar que, como se não bastasse essa polarização entre dois candidatos à Presidência, tenta-se se implantar agora, “nestas eternas e insondáveis Minas Gerais”, o mesmo diapasão. O ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), que tem o apoio do Lula, e o governador Romeu Zema (Novo), que conta com os votos dos bolsonaristas, têm igualmente exagerado na disputa.
Estava certo o poeta: “Minas não há mais”.
Acílio Lara Resende é jornalista