Na entrevista que concedeu na semana passada, Alexandre Kalil fez questão de alfinetar os empresários que, segundo ele, foram contra o Plano Diretor que defendeu para a cidade: “A resposta (referindo-se ao plano) chegou na casa deles, no bairro chique e luxuoso”.
Não vi a entrevista. “Sentiram na própria carne” – teria dito – os efeitos das pesadas chuvas: “Ninguém esperava o tamanho da catástrofe”, justificou.
Vale lembrar aqui o que disse, em artigo, sobre a gritaria nas redes sociais, induzida pelos que residem (como muitos de nós) na região Centro-Sul. Essa gritaria despertou a solidariedade na cidade toda.
Retorno ao dito artigo para dizer, também, que me penitenciei sobre possível omissão de minha parte acerca do momento político e econômico extremamente difícil e complexo no qual vive o país.
Disse lá e repito aqui: há algo que também precisa ser gritado diuturnamente: “Não há democracia sem liberdade de expressão e sem direito à informação”! A “democracia autoritária” que o presidente Jair Bolsonaro imagina ser um bem para o país, e que procura sempre demonstrar nos seus ríspidos contatos com a imprensa, estimula o aparecimento de “Goebbels de araque”, como o ex-secretário de Cultura.
Pois bem. No mesmo dia da publicação do meu artigo, pensando no desenvolvimento humano e, obviamente, decepcionado, li, em “O Globo”, reportagem sobre a insatisfação, em 154 países, com a democracia – a maior em 25 anos –, segundo pesquisa da Universidade de Cambridge. O Brasil, uma vez mais, ocupa triste lugar de destaque.
Segundo a pesquisa, leitor, 58% dos 154 países – que totalizam uma população de 2,43 bilhões de pessoas – estão descontentes com o sistema democrático.
O instante, portanto, parece fértil à proliferação de candidatos a títeres – agora claramente provenientes de conhecida direita, radical e raivosa. O Brasil é citado na pesquisa como exemplo. Ela conclui que a “crise institucional”, motivada pela operação Lava Jato, destruiu o sistema político brasileiro e expôs o político.
Vale dizer: os governos petistas, a operação Lava Jato, a agressão à faca sofrida pelo então candidato Jair Bolsonaro e “a nostalgia dos governos da ditadura militar” deram-lhe, finalmente, a vitória em 2018.
Mas Jair Bolsonaro quer mais. Muito mais. Quer ser novamente presidente. Fundou até partido – somente seu – para isso. Se na realidade se preocupasse com nosso país e com as gerações futuras, estaria permitindo e fomentado o surgimento de novas lideranças.
Como afirmou anteontem, em coluna em “O Estado de S. Paulo”, o economista e ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung: “O Brasil não merece e não pode ser refém de uma arcaica vida política baseada em visões estreitas e ultrapassadas, quando não incivilizadas, de mundo”
Que Deus se apiede do Brasil!