Meu desejo é não falar mais sobre o presidente Jair Bolsonaro. Semana passada, todavia, na quinta-feira, depois de ler a coluna semanal de Luis Fernando Verissimo, “O poder cínico”, em “O Globo”, concluí que será mesmo difícil cumprir essa espinhosa tarefa.
Verissimo me despertou para essa dificuldade quando disse que “tinha decidido não praticar mais o que se poderia chamar de jornalismo reativo, que consiste em esperar a última do Bolsonaro e reagir. Como não passa uma semana sem que ele apronte uma, nunca haveria o risco de faltar assunto, só o risco de encher o saco do leitor”.
O presidente Bolsonaro tem repetido que o governo do país mudou e que o seu é de direita. Até parece que veio ao mundo para azucrinar os que não são nem de esquerda, nem de direita, apenas pertencem a um imenso universo – provavelmente de inteligência e, talvez, de paz e boa vontade – que se aninha entre esses dois extremos.
Verissimo disse que não citará o nome do Bolsonaro “nem que ele nomeie o Queiroz como conselheiro da embaixada em Washington. Só não sei por quanto tempo vou conseguir me controlar”.
Essa frase aí em cima me deixou realmente desolado. Não é fácil ficar sem dizer nada diante das incontinências verbais ou das provocações diárias do presidente. Só os cegos e/ou surdos ou os “amigos do mito” são capazes de relegar o que meus cansados sentidos veem e ouvem. É pedir demais a quem sempre sonhou com a liberdade.
Confesso que, nessa tentativa de me silenciar de vez, quando percebo que a direita radical saiu com fúria do armário, já consegui com sucesso tornar-me sonolento em festejos tanto de amigos quanto na família. Se não me vem o sono, torno-me totalmente surdo…
Foram muitas as provocações que Bolsonaro fez nesses últimos dias. Listá-las seria perda de tempo. Cito duas, menos indecorosas: a do elogio ao “herói” ex-coronel Brilhante Ustra (acusado pelo Estado brasileiro de ser torturador durante o regime militar), quando da visita da viúva dele, Maria Joseíta, ao presidente, que a recebeu no Palácio do Planalto.
A outra, ao dizer que um filho de alguém será indicado à embaixada em Washington. “E por que não o meu?”, questionou logo em seguida.
O empresário Ricardo Rangel, em artigo em “O Globo” do dia 13 de agosto (“Bolsonaro e o Caliban”), entre outras constatações, escreveu: “É assustadora a quantidade de pessoas preparadas que releva, relativiza, minimiza, justifica ou abertamente defende infâmias do Bolsonaro. Essa complacência se explica pela revolta contra o PT e pelo raciocínio ‘vamos consertar a economia, o resto a gente vê depois’”.
E concluiu: “A complacência não se justifica. A revolta contra o PT perdeu o objeto: derrotado na eleição, com seu chefe e dono preso, o partido está fora de equação”.
Recomendo a leitura de todo o artigo, leitor.