E agora? Perguntou-me de supetão um amigo de máscara, que, em respeito ao coronavírus, fez questão de guardar distância: “Você está com Bolsonaro ou com Moro”? Pensei logo numa resposta grosseira à pergunta, semelhante às que costuma dar o primeiro a quem aqui me refiro. Passo-lhe, pois, a pergunta, leitor: quem ganhou a parada: o presidente da República ou ex-ministro da Justiça?

Mas, por favor, não leve nada disso a sério. Estou só caçoando, como ainda se diz no interior mineiro. Até porque, e se você levar mesmo a sério, iniciará a resposta dizendo que o juiz Sergio Moro – um dos principais artífices da operação Lava Jato – não deveria ter aceitado, em pleno regime democrático, o convite para ser ministro da Justiça de um presidente com propósitos manifestamente autoritários.

E, pior, no ministério, seria o “comandante” da Lava Jato e, por isso, correria o risco de ser acusado de desvios contra o Estado de direito. Se tivesse ouvido o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Aires Brito, não teria sofrido tanto. Para Bolsonaro, controlar a Polícia Federal seria pouco. Ele queria e quer impor aos seus meros subordinados o que ele pensa. Que Deus abençoe os que foram nomeados para o Ministério da Justiça e para a Polícia Federal (PF). A intenção do presidente é clara. Ele acha normal, por exemplo, pedir, pessoalmente, informações à PF sobre investigações. A justificativa é que precisa delas para governar o país…

A segunda pergunta é sobre a possibilidade imediata de impeachment. Diga-me, leitor: Bolsonaro cometeu ou não crime de responsabilidade? A resposta é simples: em seu curto mandato, cometeu não só um, mas vários crimes de responsabilidade. O impedimento, porém, somente terá início se houver vontade política. A rua seria o local apropriado para as manifestações a favor de um remédio já nosso conhecido, mas, com a Covid-19, quem vai para as ruas? E o presidente é um homem de sorte: uma facada o levou à Presidência da República e, agora, uma pandemia poderá impedir (ou adiar?) seu afastamento.

Depois de confirmar que o novo comandante da Polícia Federal é amigo da sua família e de driblar apoiadores e a imprensa, o presidente Jair Bolsonaro foi praticar tiro ao alvo: “Dez tiros. O pior foi oito (referindo-se à pontuação). Tá bom, né, depois de 30 anos inativo”, concluiu o presidente. Enquanto isso, o país ultrapassou 5.000 mortes pelo coronavírus. Segundo dados fornecidos pelo noticiário já passou a China. O Brasil subiu para o terceiro lugar proporcionalmente (medalha de bronze…) entre as nações que registraram mais mortes.

Falta a Bolsonaro perder a “amizade” de Donald Trump, que quer suspender os voos do Brasil para conter a doença. Para Trump, o Brasil enfrenta a Covid-19 de modo pior que seus vizinhos.