Na juventude, tive simpatia pelo Fluminense. Em Minas, torço pelo América, cujo sofrimento foi se diluindo no tempo. Levaram-me ao clube mineiro um tio materno e sua notável equipe de basquete. Sábio, o time de futebol não subiu, continuou na segunda divisão… Mas, como Zuenir Ventura, torci pelo Flamengo e pelos seus torcedores, prestes a desistir do título que disputaram no Peru.

Depois de aprender na cartilha do saudoso Adolfo Guilherme, atleta exemplar, colecionador de títulos esportivos e um dos responsáveis pelo nosso vôlei de hoje, joguei basquete no time juvenil do Instituto Padre Machado, no curso ginasial (criado e treinado por ele). Depois, treinei no América. Os estudos (e a estatura, que já começara a mudar naquela época) me afastaram de um dos meus maiores sonhos.

Sinceramente, gostaria de continuar no assunto com o qual iniciei estas linhas. Mas a política, que hoje não me permite descanso à mente, acendeu uma luzinha vermelha e incômoda. Isso me aflige e me leva a mais um desabafo. Voltarei ao futebol noutra ocasião.

Inicio pelo título: “Só um insensato torce para que o governo se dê mal”. Como não me incluo nesse meio, apesar das críticas que tenho feito às ideias de Bolsonaro, a inúmeros integrantes da sua equipe e, enfim, aos seus filhos, torço, em nome dos que sofrem uma das mais dramáticas desigualdades sociais do mundo, para que seu governo encontre luz no fim do túnel. E torço, principalmente, para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, acerte.

Não sei quem é Paulo Roberto Nunes Guedes (não me refiro ao profissional ou ao empresário), que ocupa o ministério da Economia. Sei que se trata de um economista cujo temperamento, aos 70 anos, sobretudo quando o ouço falar, me assusta. O tom me aflige. Tenho procurado entender o homem e/ou o intelectual que o sustenta. Sei que estudou no Colégio Militar de Belo Horizonte durante seis anos, de 1961 a 1967, cursou economia na Universidade Federal de Minas Gerais e concluiu pós-graduação, iniciada aqui, na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Seu temperamento explosivo, às vezes debochado, torna mais acesa a luzinha a que aludi acima. Mas o que agora me assustou foi um aspecto da sua personalidade (liberal?) que desconhecia. A menção ao retorno do AI-5 me petrificou. Toda vez que ouço falar sobre esse mostrengo, temo a tragicidade dessa possibilidade.

Tornemos o Estado mais eficiente e menos injusto. As reformas o afastarão do autoritarismo que parece estar na alma de alguns integrantes do governo. A referência do ministro Paulo Guedes ao AI-5, bem como as falas – quase diárias – do presidente Jair Bolsonaro e de alguns dos seus auxiliares sobre assuntos sérios, como a cultura, por exemplo, soam como tentativas contra a democracia e a liberdade.