Longe de mim, leitor, caçoar – quem é do interior conhece muito bem esse verbo – ou tirar sarro de alguém – expressão já não tão moderna assim –, mas as chuvas amedrontadoras que fustigam Belo Horizonte, um sinal evidente da natureza e/ou do meio ambiente contra os que não os respeitam, acertaram-nos, agora, com mais intensidade, na chamada Zona Sul. E a gritaria, como se esperava, foi geral. Deus queira que ela faça ecoar o sofrimento dos que mais sofrem!

Quando menino, com os pés descalços e seguindo experiência de irmão mais velho, que pressentia, antes de qualquer um, a chuva que se anunciava no horizonte escuro e aterrador e – o que é inexplicável e mais intrigante – sua intensidade, logo após as chamadas “pancadas de verão”, saía eu às ruas, acompanhado de amigos corajosos, para brincar com as enxurradas. Hoje, isso se tornou mais impraticável ainda, pois, conforme alerta da diretora de Vigilância Epidemiológica de Belo Horizonte, Lúcia Paixão, “na água de enchente, pode haver bactéria. A pessoa deve ficar atenta”. Foi-se, pois, há dezenas de anos, uma das maiores diversões da meninada.

As redes sociais, que tanto bem podem fazer, mas que veiculam sem qualquer preocupação e sem comprometimento com a verdade, informações às vezes inexatas ou mentirosas, só fazem crescer o medo e o pânico. Anteontem à noite, pus-me a checar as filmagens enviadas por amigos ou desconhecidos, que se acham cinegrafistas, fotógrafos, repórteres, redatores, editores etc. Nenhum ciúme… Nada contra eles, pois sei que, em muitas ocasiões, agem positivamente. Todavia, dentre as mensagens e filmagens, lá estavam notícias falsas, absolutamente desnecessárias, pois os estragos na “Belo Horizonte” de hoje foi dos maiores e mais cruéis dos seus 120 anos de existência.

Em seguida, apesar dos insistentes alertas da minha filha, que, aflita, me fazia rever, várias vezes, as mensagens que ambos recebíamos, saí à rua, aqui no bairro Serra, naquele temporal. Não fui aos locais indicados pelos “produtores de pânico”, mas vivenciei alguma coisa da tragédia que se abateu (e se abate) sobre nossa metrópole (?). Atenção, porém: não aconselho a ninguém repetir este antigo hábito…

Foram-se as linhas, mas meus dedos reclamam de possível omissão. O silêncio, às vezes sábio, me diz hoje o contrário. De tudo que se pode dizer sobre o momento histórico por que passa nosso país e o mundo, há algo que precisa ser repetido diuturnamente: não haverá democracia sem liberdade de expressão e sem o direito à informação. O brasileiro não nasceu para ficar calado. Essa “democracia autoritária” que Jair Bolsonaro imagina ser um bem ao país é que levou o ex-secretário de Cultura a se fantasiar de Joseph Goebbels tupiniquim.