Há tempos se aguardava um papel que desafiasse Paolla Oliveira além das amarras da beleza estonteante e da presença cênica segura — e ele chegou. Em Vale Tudo, como Heleninha Roitman, a atriz finalmente encontra um ponto de ebulição emocional que a coloca entre os grandes nomes de sua geração. E o mais interessante: não há afetação em sua atuação. Tudo vem de dentro, num pulso orgânico que dói e encanta.

A personagem, marcada por traumas, ressentimentos e pelo peso de um passado trágico, ganha em Paolla uma intérprete de nuances. A entrega é visceral, mas nunca espalhafatosa. Em cenas de confronto com Odete (Debora Bloch), é nítido como Paolla constrói a vulnerabilidade com os olhos marejados e a voz trêmula — ela não precisa gritar para ser ouvida. Quando Heleninha recua, se encolhe ou desaba, o público sente junto. A câmera a ama, mas é ela quem a domina com domínio técnico raro, timing dramático preciso e uma escuta ativa que potencializa seus colegas de cena.

Mais do que repetir uma personagem icônica da dramaturgia brasileira, Paolla ressignifica Heleninha para os dias de hoje. Em tempos de saúde mental em pauta, sua abordagem da culpa, da dependência e da fragilidade feminina não romantiza nem estigmatiza. Pelo contrário: humaniza. Em um remake ousado, ela é a alma sensível em um tabuleiro de egos, crimes e segredos familiares.

Heleninha em Vale Tudo

É uma atuação madura, empática e precisa — provavelmente a mais importante da carreira de Paolla até aqui. A Heleninha de 2025 não apenas honra a original; ela a expande. E isso, convenhamos, é para poucos.

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