Aprovamos na Assembleia Legislativa de Minas um projeto que carrego no coração desde o primeiro dia do meu mandato: as diretrizes para a educação escolar quilombola em nosso Estado. É difícil descrever o que senti; foi alívio, foi alegria, foi honra, foi luta vencida. Foi também um reencontro com tantas vozes que vieram antes de mim, com os passos firmes dos meus ancestrais.
Eu disse isto em entrevista e repito aqui: esse projeto é o mais importante depois da Lei Áurea. Porque de que adianta abolir a escravidão no papel se o povo preto continua sendo empurrado para fora da escola, da política, do emprego, do acesso à terra, à dignidade?
Educação quilombola
Com essa lei, a gente reconhece que educação não é só caderno, giz e lousa. É memória, é cultura, é pertencimento. A educação quilombola que a gente está construindo em Minas é feita com base no respeito: respeito pela história do nosso povo, pelos saberes ancestrais, pelos modos de vida que resistem há séculos apesar de tudo.
O projeto não foi escrito numa sala fechada em Belo Horizonte. Ele foi construído com quem vive nos quilombos. Com escuta, com afeto, com responsabilidade. Ele garante que as escolas quilombolas sejam geridas pelas próprias comunidades, que tenham professores quilombolas concursados, que o conteúdo respeite o cotidiano, o tempo e os valores do território.
Hoje temos dezenas de profissionais quilombolas formados, prontos para ensinar. Com essa política, vamos gerar pelo menos 6.000 empregos diretos para os quilombolas. Vamos manter o jovem no quilombo com dignidade, sem precisar sair de sua terra para estudar ou trabalhar. Vamos fazer girar a economia do próprio território, com o salário dos servidores públicos movimentando o comércio local.
Essa é uma política que une tudo aquilo em que eu acredito: justiça social, reparação histórica e desenvolvimento de verdade, com o povo no centro.
Devolver o direito de sonhar
Não se trata só de educação. Trata-se de devolver ao povo preto o direito de sonhar. De ver seus filhos aprenderem sobre sua cultura, sua história, sua força. Trata-se de reconhecer que a escola pode ser um lugar de cura, e não mais um espaço de silenciamento.
Sei que ainda temos muito pela frente. A sanção do governador, a implementação, o acompanhamento. Mas hoje eu respiro com um pouco mais de esperança. Porque sei que cada criança quilombola que entrar numa dessas escolas vai encontrar um lugar onde sua existência não será apagada.
Essa vitória não é minha. É do povo quilombola. É da luta preta. É de cada mulher, homem, jovem que acreditou que outro futuro era possível.
Seguimos.