Andreia de Jesus

O fascismo da cor

Formas de exclusão aplicadas pelo racismo no Brasil

Por Andreia de Jesus
Publicado em 08 de abril de 2023 | 07:00
 
 
 
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O título para este artigo tomei emprestado ao livro do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Muniz Sodré. Tema que a cada dia se mostra ainda mais imprescindível para compreendermos os movimentos de determinados atores na sociedade brasileira que nos últimos anos perderam a vergonha de manifestar publicamente aqueles sentimentos que antes guardavam na intimidade de sua vida privada ou de seus pensamentos.

Para Sodré, o racismo não escravista no Brasil surge ao mesmo tempo em que emerge no Velho Continente o ideário fascista, fundado, em maior parte, na eugenia. E difere-se do anterior racismo segregacionista do Brasil Colônia pela implementação de novas formas de exclusão.

Novas formas de racismo

Novas formas de racismo que se traduzem em oportunidades educacionais de menor qualidade. Em locais de moradia sem infraestrutura. Em empregos em menor quantidade e com menor remuneração. Em maior presença no sistema prisional. Em ausência nas posições de direção, tanto no setor privado como no público. Em baixa presença na representação política institucional e na não aceitação da nossa presença nesses espaços.

Como podemos perceber por esses poucos exemplos, o racismo está presente na estrutura da sociedade brasileira. Não se trata de eventos episódicos, que servem apenas para ilustrar o quanto esta cultura desprezível está entranhada em nosso meio. Um segurança matar um negro em uma rede mundial de supermercados é apenas um grão de areia nesse universo de discriminação e violência. Por mais que dilacere nossos corações. Porque vidas negras importam.

Agressão

Durante meu primeiro mandato, fui vítima de inúmeras ameaças. Até mesmo de morte. Tenho clareza de que o que mais nutria o ódio dessas pessoas não era o fato de eu pertencer a um partido de esquerda. Tampouco por eu defender um Estado e um país mais justo, mais humano e mais igualitário, tomando partido claramente pelos mais pobres. Nem mesmo o fato de eu ser uma mulher. Nada disso servia como o principal combustível para os fascistas atacarem a nossa mandata.

O nitrogênio de suas ameaças estava na imagem projetada pela minha pele. Pelo meu cabelo. Por minhas roupas. Pela minha fé. Pelos traços do meu rosto. O racismo se sobrepunha. O que lhes incomoda é ver a nossa cor ocupando um espaço que eles acreditam ser apenas para eles.

Antirracista e antifascista

Não aceitam, porque, além de fascistas, são racistas. Ver uma mulher preta presidindo a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas: isso os derrota. Como poderiam brancos bem-nascidos aceitar uma coisa dessas? Então tentam nos calar. Com gritos, xingamentos, ameaças, boicotes. Mal sabem eles que isso nos fortalece. Culturalmente crescemos na adversidade. A cada chibatada, nosso povo ficava mais forte para lutar pela liberdade, para romper com o regime escravocrata.

Nossa luta é antifascista e antirracista. Enquanto perdurar em nossa sociedade o fascismo de cor, de forma direta ou dissimulada, nos manteremos in pugna. Não baixaremos a guarda em nenhum momento. Manteremos nossas fileiras avançando pelo pagamento da enorme dívida que nossa sociedade tem para com o povo preto. Seguiremos caminhando para ocupar espaços. Essa é a nossa tarefa em respeito aos nossos ancestrais.

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