Andreia de Jesus

Andreia de Jesus

Deputada estadual (PT)

Andreia de Jesus

Por mais investimento, respeito e valorização da trabalhadora negra

Políticas públicas que assegurem os direitos e a inclusão das mulheres

Por Andreia de Jesus
Publicado em 04 de maio de 2024 | 12:16
 
 
 
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No Brasil, a vida da mulher negra trabalhadora é marcada pelo racismo estrutural que se traduz pela falta de condições econômicas, baixa formação escolar e poucas oportunidades de trabalho. Em todas as pesquisas realizadas, as mulheres negras e pardas se dedicam mais ao trabalho doméstico do que as mulheres brancas. A mulher negra periférica também é apontada como o grupo social mais vulnerável da sociedade.  

Muitas de nós, mulheres negras, assim como eu, trabalhamos na infância e na juventude como empregadas domésticas. Uma função ligada ao cuidado, que obteve mais direitos trabalhistas, mas que ainda é vista com preconceito, persistindo uma cultura de maus-tratos, informalidade e desvalorização profissional.  

Segundo dados do governo federal, o trabalho doméstico é a ocupação de 5,8 milhões de pessoas, sendo 92% delas mulheres e 61,5% mulheres negras – e apenas 23% delas têm carteira assinada e direitos garantidos.  

Visando melhorar esta situação precária, o governo Lula e a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas lançaram, nesta semana, um curso de qualificação para empregadas domésticas no Brasil. A iniciativa é muito bem-vinda e vai colaborar para a valorização e respeito ao trabalho doméstico. 

Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tenho trabalhado pela defesa das lutas das mulheres negras, que vem crescendo a cada dia, com mais participação e engajamento das mulheres em todo estado. Neste segundo mandato, já destinamos mais de R$ 3 milhões, por meio de emendas parlamentares, para apoiar as mulheres negras e periféricas, em projetos nas áreas da saúde, educação, geração de trabalho e renda, melhorias residenciais, campanhas de direitos da mulher e combate ao assédio sexual. 

Os brasileiros devem muito a mulher negra que carrega nas costas a herança do período escravocrata, baseada na discriminação social e no racismo que se estruturou no sistema após a abolição.  

Depois da Lei Áurea, os brancos mais abastados continuaram sustentando seus privilégios, suas terras e seu poder, mantendo, inclusive, muitos empregados domésticos, principalmente as mulheres negras nas funções de empregada, cozinheira, arrumadeira e babá.  

A empregada doméstica é aquela que acorda mais cedo que todo mundo, faz o café, vai na padaria e arruma a mesa para servir uma família que não é a dela. Patrões, que muitas vezes, insistem em dizer que você é da família, apenas para não pagar os direitos trabalhistas.  

Nós, mulheres negras, por sermos o grupo social mais atingido pelas mazelas da sociedade, precisamos de lutar juntas por mais direitos e investimentos do Estado, em todas as áreas, reivindicando apoio real e uma reparação histórica concreta do governo. 

Hoje, investir no empoderamento da mulher negra é investir na família, na possibilidade de melhores condições de vida para todos. Muitos lares são chefiados por nós, mulheres negras, que nos desdobramos e trabalhamos duro para sustentar a casa e formar os filhos, com muito orgulho. A mulher negra é brava, guerreira, a heroína da resistência. 

Nós, mulheres negras, seguimos firmes na luta diária, seja nas casas de família, nas universidades ou atuando na política, territórios novos que já conquistamos, para que outras possam escolher o seu próprio caminho. Estamos plantando sementes, adubando a terra com o nosso sangue e suor. Acreditamos no futuro, no talento e no empoderamento das mulheres negras, que estão ascendendo hoje em cada canto do país. 

 (*) Andreia de Jesus é deputada estadual e presidenta da Comissão dos Direitos Humanos da ALMG 

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