Andreia de Jesus

O peso de um gesto

Símbolos de ideias nazistas em Minas e no Brasil

Por Andreia de Jesus
Publicado em 11 de fevereiro de 2023 | 08:30
 
 
 
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No dia 2 de novembro passado, em meio a uma série de manifestações golpistas daqueles que não aceitavam a vitória eleitoral do presidente Lula, começou a circular pelas redes uma imagem absolutamente assustadora. Nela, uma multidão de bolsonaristas que protestava em frente a uma base militar em São Miguel do Oeste (SC) trazia o braço direito estendido e erguido um pouco acima da altura dos ombros, enquanto cantavam e ouviam o Hino Nacional.

A associação daquela imagem e daquele gesto com um dos períodos mais graves da história humana foi imediata. O gesto, tristemente repetido por tantos brasileiros, remetia à saudação do partido nazista, responsável pela propagação de ideário racista e pela eliminação física de milhões de pessoas nas décadas de 30 e 40 do século passado. A principal representante da comunidade judaica brasileira, a Conib (Confederação Israelita do Brasil), reagiu imediatamente, pedindo que as imagens fossem investigadas. Uma vereadora de São Miguel do Oeste, Maria Tereza Capra, denunciou a absurda situação na tribuna e em publicações nas redes sociais, fazendo ecoar a mesma indignação de cada um dos brasileiros que, por conhecerem a história por trás daquela saudação, empenham-se para que as atrocidades cometidas pelo nazismo não se repitam.

A investigação do Ministério Público, no entanto, entendeu que aqueles manifestantes golpistas estavam fazendo aquele gesto após terem sido conclamados, por uma liderança, a erguerem o braço direto para “emanar energias positivas”. O procedimento contra os manifestantes foi arquivado, e a vereadora Maria Tereza Capra teve, na madrugada do último dia 4, o mandato cassado por seus colegas, majoritariamente bolsonaristas.

O cinismo como método para alegar inocência ou desconhecimento diante dos fatos e, dessa forma, normalizar absurdos já é tática conhecida da extrema direita brasileira. Quando o ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro fez um pronunciamento idêntico, em imagem e conteúdo, a um discurso realizado pelo ministro nazista Joseph Goebbels, ele atribuiu o escândalo a “uma infeliz coincidência retórica”, culpando a sua equipe por ter feito uma pesquisa ruim. Mas ponderou que “a origem é espúria”, mas que as ideias ali contidas eram “absolutamente perfeitas”.

No dia da posse desta legislatura na Assembleia, ao fazer o juramento a que todos nós, representantes do povo mineiro, devemos honrar, o gesto de “vibrações positivas” dos golpistas de São Miguel do Oeste se repetiu. A bancada bolsonarista do Partido Liberal, com poucas exceções, ao fazer o juramento, ergueu o braço direito esticado um pouco acima da altura do ombro, tal como os nazistas da década de 30. Era necessário, regimentalmente, apenas erguer a mão direita.

Não sei se irão dizer que estavam emanando boas vibrações para os trabalhos parlamentares dos próximos quatro anos ou que, apesar de não concordarem com Hitler, a saudação “Sieg Heil”, em louvor ao ditador alemão, é “absolutamente perfeita”.

Neste caso, fico com o questionamento do saudoso Leonel Brizola: “Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré?”.

Andreia de Jesus é deputada estadual (PT-MG) | andreiadejesus@gabinetona.org

 

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