Andreia de Jesus

O povo preto segue em luta!

13 de Maio, Dia Nacional de Denúncia do Racismo

Por Andreia de Jesus
Publicado em 13 de maio de 2023 | 07:00
 
 
 
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Enquanto eu escrevia esse artigo, escutava o samba enredo intitulado “Histórias para Ninar Gente Grande”, do desfile da Mangueira no ano de 2019. Enredo muito bonito que compartilho um trecho.

“Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato”

Esse samba me convida a pensar que o povo preto sempre esteve em luta e que a abolição inconclusa, estabelecida pela Lei Áurea assinada pela então princesa Isabel em 1888, omitiu por muito tempo o protagonismo do povo preto. Uma lei e nenhuma medida por parte do Estado brasileiro para garantir condições adequadas de vida para a população negra.

Apenas uma lei com dois artigos. Para compreender melhor esse período, sugiro a leitura de dois livros: “O Massacre dos Libertos”, sobre raça e República no Brasil, de Matheus Gato, e “Rebeliões da Senzala: Quilombos, Insurreições e Guerrilhas”, de Clóvis Moura. 

Esses autores nos apresentam uma história em que a abolição da escravatura foi resultado da luta do movimento abolicionista (não podemos esquecer da revolucionária Luiza Mahin e do advogado abolicionista Luiz Gama) pela sociedade civil e pelas pessoas escravizadas. Uma luta popular. Uma luta do povo preto. O povo preto nas ruas desde sempre. 

A partir da década de 70, a data de 13 de maio foi ressignificada pelo movimento negro e hoje consideramos como o Dia Nacional de Denúncia do Racismo. Esse mesmo movimento que protagonizou vozes negras na Assembleia Constituinte, dentre elas, Benedita da Silva, mulher negra parlamentar ,minha referência na política. 

Mais um dia de luta

O dia 13 maio é para nós, povo preto, mais um dia de luta. Mais um dia que iremos cobrar ao Estado brasileiro políticas de ações afirmativas, políticas de reparação. Dia que iremos reforçar a nossa luta, o nosso desejo de bem viver. Tal qual a marcha Zumbi dos Palmares, em 1994, e a Marcha das Mulheres Negras, em 2015. 

Se hoje eu ocupo o cargo de deputada estadual, uma preta voz que denuncia constantemente situações de racismo, que luta por igualdade de oportunidade para a população negra, é porque o movimento negro permanece em luta denunciando que racismo é crime, que racistas não passarão e que a construção de uma sociedade mais justa somente terá sentido com a superação da desigualdade racial. Como diz a Coalizão Negra por Direitos, enquanto houver racismo não haverá democracia.

Por isso convido vocês para que, no dia 13 de maio e todos os dias, possamos exigir a erradicação do racismo como prática genocida contra a população negra.

Andreia de Jesus é deputada estadual (PT-MG)
andreiadejesus@gabinetona.org

 

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