Artigo

80 anos em um dia

Aniversário da Escola Guignard e suas contribuições

Por Leônidas de Oliveira
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
 
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O dia é 29 de fevereiro de 1944. A cidade, Belo Horizonte. O prefeito, Juscelino Kubitscheck. Os primeiros 80 anos da Escola Guignard, comemorados em 2024, têm todos os ingredientes de uma epopeia – a começar por 1944 e 2024, dois anos bissextos. Tudo se inicia com o moderno e eterno JK, prefeito de BH entre 1940 e 1945.

Obcecado em remodelar a cidade, transformou a paisagem urbana com um banho de Modernismo. Uma de suas realizações mais famosas é o conjunto arquitetônico da Pampulha (1943), projetado por Oscar Niemeyer. Entre outras obras, o projeto incluiu uma capela em homenagem a São Francisco, decorada com pinturas e azulejos de Cândido Portinari. Resultado: a Pampulha é, desde 2016, Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

JK, Niemeyer e Portinari. Só faltava revolucionar as artes plásticas, só faltava Guignard. Guignard é “mineiro” de Nova Friburgo (RJ) e nasceu em 1896, um ano antes de BH. Já era famoso, no Rio de Janeiro, quando aceitou, em 1943, o convite de JK para a dirigir a Escola de Belas Artes na capital mineira, onde chegou em 1944, dividindo seu tempo e amor entre a cidade, onde faleceu, em 1962, e Ouro Preto, sua inspiração máxima.

Aí começa o mistério dos primeiros anos da Escola Guignard, não nos “porões” do Palácio das Artes, mas no Instituto de Belas Artes. Instável, a escola funcionou durante seis anos em sedes precárias.

Na verdade, a escola existia onde estavam Guignard e seus alunos, forjando desenho e pintura de princípios antiacadêmicos, na busca por uma expressão particular, única, bem longe de cópias e repetições.

Consta que o último endereço fixo da escola foi um apartamento na rua Rio de Janeiro. Persistente e resiliente como o próprio Guignard, a escola escapou de intempéries e despejos, resistiu e, hoje, chega aos 80 anos sólida e famosa como uma das melhores escolas de arte do país. Estava realizado o sonho de JK.

A nova Escola Guignard também comemora 30 anos. Em 1994, foi inaugurado o prédio que abriga o espaço. Construída aos pés da Serra do Curral, a obra do arquiteto Gustavo Penna é uma vitrine de simbolismo. Talvez o maior deles seja a liberdade do voo de Guignard, saindo do “Porão das Artes” para, enfim, abraçar os píncaros das montanhas de Minas que ele amou e eternizou.

“O que Guignard queria? Pintar as montanhas. Então, a escola sobe as montanhas e fica do alto, o que ele gostava; contemplação da distância, em um espaço neutro”, diz Gustavo Penna.

Pinceladas e cores destes 80 anos podem ser admiradas na exposição “A paixão segundo Guignard” – não por acaso, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes. Nela, os primórdios da escola, ainda Instituto de Belas Artes; o professor Guignard e seus primeiros alunos, em seu também primeiro e preferido cenário, o Parque Municipal, verde vizinho do mesmo Palácio das Artes.

Guignard viveu e vive na obra de seus primeiros pupilos e, ainda hoje, nos formandos da Escola Guignard. Reza o ditado popular que filho de peixe, peixinho é. Não só! Filho de peixe, aluno de Guignard, também é peixe graúdo e raro como Álvaro Apocalypse, Arlinda Corrêa Lima, Chanina, Marília Giannetti, Mário Silésio, Mary Vieira, Nelly Frade, Vilma Rabelo Machado, entre outros.

Filho de peixe também é tubarão do quilate e peso de Amilcar de Castro, Farnese de Andrade, Yara Tupinambá, Laetitia Renault, Maria Helena Andrés e tantos outros. Todos, astros e estrelas de primeira grandeza, estão em “A paixão segundo Guignard”.

A Escola Guignard, há 30 anos integrante da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), não é eterna, mas infinita enquanto durar no alto do bairro Mangabeiras, com uma vista digna de Guignard. Ao longo de 2024, “A paixão segundo Guignard” será mais um capítulo do projeto “80 e Sempre”, comemorando os 80 anos da Escola Guignard, esta montanha. Podem escalar.

(*) Leônidas de Oliveira é secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais

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