Opinião

Dois lados do coronavírus

Pandemia e economia no Brasil

Por Flávio Riani
Publicado em 20 de março de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

A epidemia oriunda do coronavírus veio, de certa forma, amenizar a discussão sobre os sucessivos insucessos da política econômica do governo. A insistência da atual administração em tentar resolver o grave problema fiscal única e exclusivamente por meio de corte de gastos tem gerado resultados inócuos sob o ponto de vista das finanças públicas e desastrosos para a deterioração dos já precários serviços públicos.

No elenco das medidas de corte, o governo tem exaltado as reformas até agora realizadas, que, do ponto de vista das finanças, pouco geraram de economias, mas tiveram como resultado a precarização das condições de trabalho no país.

A reforma trabalhista realizada ainda no governo Temer, avalizada pelo atual governo, foi capaz de retirar direitos e assistências dos trabalhadores brasileiros, contribuindo para a significativa elevação da informalidade, sem qualquer amparo social.

Enquanto isso, os indicadores econômicos sinalizam a trajetória de desempenhos frustrantes para economia brasileira neste ano. A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, divulgada pelo IBGE, mostrou uma variação menor do que as observadas nos últimos três anos, e um valor monetário equivalente ao de 2013.

A exemplo do diagnóstico das reformas mencionadas, o governo continua iludindo a sociedade com a ideia de cortes e se apoia em dois outros segmentos que, na avaliação dele, finalmente resolverão os problemas fiscais e promoverão a inflexão para a trajetória de crescimento do país, que são as reformas fiscais e administrativas.

Tal assertiva é novamente enganosa, e as mudanças tributárias e administrativas, se gerarem algum efeito econômico, serão residuais, embora justificadas por outros motivos que não os apontados pelo governo como salvadores da economia brasileira.

Afinal, o que tem o coronavírus com isso?

O coronavírus entra nessa breve reflexão sobre a situação econômica em dois pontos relevantes: o primeiro é o de que ele surge num momento econômico e político complicado no país e serve para desviar a atenção dele; o segundo é que ele novamente gerará um efeito benéfico nesse ambiente. Uma vez que a questão do vírus seja equacionada, o retorno das atividades econômicas tende a ser rápido, à medida que não haverá necessidade de novos investimentos, e sim utilização da capacidade ociosa.

O crescimento resultante disso poderá novamente mascarar a real situação por se tratar apenas de um período de acomodação dos agentes e das atividades econômicas.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!