Nesta época dominada pela infodemia da Covid-19, pode parecer estranho o alerta para a ocorrência de doenças. Mas o Julho Amarelo está aí para nos lembrar de outros vírus, para os quais temos vacinas e exames laboratoriais, mas que ainda não superamos: os vírus causadores das hepatites.

As hepatites são um grupo de doenças que provocam inflamação do fígado, e as causas mais frequentes são virais. Essas doenças matam 1,4 milhão de pessoas a cada ano – mais do que a Aids e a malária juntas –, sendo que apenas uma em cada dez pessoas portadoras de hepatite viral tem ciência de que está com a doença.

Além do mais, cerca de dois terços de todos os casos de mortes por câncer do fígado estão associados a hepatites por vírus B ou C.

Exames e vacina

Hoje, temos disponíveis exames laboratoriais para o diagnóstico e tratamentos eficazes para as hepatites A e B e até mesmo cura para a hepatite C. Existem ainda vacinas eficazes para o tipos A e B. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) traçou a meta de eliminar as hepatites virais até 2030.

A hepatite A está associada à ingestão de água ou alimento contaminados por fezes, e a falta de saneamento básico para metade da população brasileira é um fator importante. A boa notícia é que temos uma vacina muito eficaz, que pode ser administrada para toda faixa etária, garantido assim a prevenção da doença.

A OMS recomenda também a vacinação para todos, do nascimento à terceira idade, contra a hepatite B. Lembrando que os bebês devem receber uma dose de vacina contra esse tipo preferencialmente nas primeiras 24 horas de vida. Os que ainda não foram vacinados podem diminuir o risco de contaminação usando as mesmas cautelas usadas contra o HIV, uma vez que ambos são vírus que se transmitem pelo sangue, principalmente.

Já para a hepatite C ainda não temos vacina. No entanto, existe tratamento eficaz para esse tipo da doença, que é uma das principais causas de câncer do fígado.

Campanha

Neste ano de 2020, mais uma vez a OMS lança uma campanha com foco no diagnóstico precoce das pessoas infectadas por algum desses vírus, mas que ainda não desenvolveram sintomas, chamada “Encontre os milhões” (de pessoas que não sabem que têm hepatite).

Aqui, no Brasil, igualmente, desde 2016, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) estimula os médicos a solicitarem aos pacientes exames para hepatites B e C, sífilis e HIV, mesmo que eles não apresentem sintomas. O objetivo é interromper a cadeia de transmissão e realizar o tratamento o mais cedo possível.

Nunca discutimos tanto a importância da proteção contra os vírus para a saúde na nossa sociedade. Enquanto esperamos a solução para a Covid-19, que tal agirmos contra os vírus das hepatites? As ferramentas para isso já estão ao nosso alcance.