Em 2019, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reuniu representantes de Google, Facebook, WhatsApp e Twitter com o objetivo de ajustar estratégias de combate às informações falsas nas eleições municipais de 2020. Esses encontros foram realizados em alinhamento com o Programa de Enfrentamento à Desinformação do TSE, uma vez que o uso das mídias sociais se tornou estratégia importante no espaço público, em especial entre os candidatos a cargos eletivos e seus potenciais eleitores.
O que não se esperava é que viveríamos no ano das eleições municipais em um mundo acometido pela pandemia da Covid-19, que elevaria à enésima potência a utilização dos meios eletrônicos, diante da constatação de que, sem vacina ou tratamento eficaz contra a doença, a política pública do distanciamento social é a que melhor contribui para desacelerar a disseminação do novo coronavírus. Esse cenário acabou forçando a substituição do modelo tradicional de campanhas políticas realizadas no Brasil por campanhas realizadas em plataformas eletrônicas.
Isso é, a substituição do espaço público presencial pelo virtual é uma realidade para as eleições de 2020 e, com isso, aumentam-se as chances de disseminação de outro vírus, esse sim bem vivo na internet e que pode atrapalhar em muito o pleito eleitoral: o das informações falsas, ou fake news. Ele está sendo combatido de forma mais enérgica pelo TSE desde as últimas eleições gerais de 2018, criado, conforme já afirmado, o Programa de Enfrentamento à Desinformação, que com a ajuda de 48 instituições, entre partidos políticos e entidades públicas e privadas, a Justiça Eleitoral busca enfrentar a desinformação.
Ocorre que eleições cujas campanhas são majoritariamente virtuais, realizadas em um ambiente polarizado politicamente como o Brasil da atualidade, com a cultura das “correntes” de WhatsApp, em que se compartilha de tudo, sem maiores conferências a respeito do conteúdo, há uma forte tendência de colhermos prejuízos políticos, assassinatos de reputações, desestruturações de pleitos locais etc. Tal afirmação se torna ainda mais preocupante quando se percebe que o referido aplicativo de mensagens, ao contrário do Facebook, por exemplo, é um espaço privado com criptografia de ponta a ponta, isso é, não há espaço possível para se fazer moderação de conteúdo replicado.
Dessa forma, mesmo com o anúncio realizado pelas plataformas de que há uma real preocupação em garantir a lisura no pleito desse ano, bem como de que está sendo feito o possível para checagem e derrubada de contas criadas nessas plataformas para disseminação de informações falsas, o pleito das Eleições Municipais de 2020 será ímpar na história do Brasil, entrando para o registro nacional como uma eleição marcada por campanhas políticas virtuais, sem aglomerações de candidatos e apoiadores, sem o clássico aperto de mão e abraço em crianças, para ser uma eleição marcada por encontros virtuais, correntes de WhatsApp e, o que não pode ser descartado, fake news incontroláveis e criptografadas.