Amizade é não querer nada em troca. É não precisar de mais nada, a não ser da presença. 

  

Não importa o seu sobrenome, a sua função, a sua conta bancária. Não carrega interesse, não almeja nenhuma facilidade.  

  

Você gosta de conversar, você se sente traduzido, você se sente compreendido. Não tem que destrinchar piadas, nem desenhar seus dilemas, muito menos defender suas dores. 

  

É uma mágica da naturalidade, da espontaneidade. Não se cansa de escutar. Não sofre do ranço da conveniência, do medo do tempo gasto.  

  

O conselho que virá é sempre um ponto de vista agregador. 

  

Com o amigo verdadeiro, você se vê engraçado, você se vê especial. Até a sua rotina parece emocionante diante daqueles ouvidos atentos. 

  

É raro encontrar um amigo para a vida inteira: esse cúmplice atemporal. 

  

O mais corriqueiro é contar com amigos de fases. Depois de um ciclo em comum, vocês não dispõem mais de nenhuma afinidade e se dispersam na elegância do silêncio. 

  

Não que vocês tenham se transformado em inimigos. Não houve discussão ou briga. Vocês simplesmente se afastaram. Pararam gradualmente de se telefonar, de sair, até não restar qualquer sombra de intimidade. Esse amigo não morre: desaparece. 

  

Tampouco devemos condenar essas amizades, que chamo de “úteis”. Servem para um momento da nossa formação: escola, universidade, trabalho, academia, esporte, lazer. Só que não perduram para além dos contextos. As circunstâncias forjam uma identidade provisória. Fora dali não existe convergência. 

  

Ou você muda e o outro não acompanha seu crescimento, ou você muda e o outro não compactua com quem você se tornou. 

  

Quando o vínculo se faz pela concordância de ideias, o futuro se esgota. O sucesso, a prosperidade e o brilho acabarão sendo dissipadores da frequência, produtores de distância. 

  

É frágil a sintonia que se baseia na razão. Divergências a colocarão em xeque.  

  

Pode acontecer, inclusive, com um irmão. Enquanto são pequenos e dividem o quarto, vocês partilham os brinquedos, experimentam apego e harmonia. Basta crescerem e virarem adultos, que não se procurarão como antes. Perdem a conexão que estava restrita ao ambiente familiar. Não desenvolveram uma conexão direta de personalidade, e sim de estrutura social. 

  

Um sinal da inconsistência da amizade é quando o afeto entra em contato, fala sem parar, mas nem pergunta como você está. 

  

Amigos sinceros ultrapassam as vontades da ocasião ou o estado civil. 

  

Serão inseparáveis, mesmo se você está casado e seu amigo é solteiro, mesmo se você é solteiro e seu amigo está casado, mesmo se você tem filhos e seu amigo não pensa nisso, mesmo se ele tem filhos e você não se considera apto. 

  

Não dependem de elos externos. Permanecem juntos não porque vivem uma realidade semelhante, mas porque se admiram e se apoiam dentro das diferenças. 

  

A competição, a inveja e o ciúme nem vingam numa relação que é gratuita, já que a comunicação se estabelece pela simpatia, pelo bem-estar, pela paz do conforto. 

  

Levante uma questão trivial: 

  

– Por que ele é meu amigo? 

  

Se for um laço definitivo, você não saberá responder. Não haverá uma resposta específica. Trata-se de uma necessidade proveniente do acolhimento integral, sem reservas. 

  

O amor não goza de explicação. O que é explicável já tem por trás a busca por um benefício. 

  

Se você se aproxima de alguém por um motivo, só ficará ao seu lado enquanto o motivo existir. 

  

A reciprocidade parte do coração – apenas do coração. Pois o coração não envelhece. 

  

Ao encaminhar uma mensagem no WhatsApp, ao criar um novo grupo ou ao começar uma ligação, surgem as pessoas com quem você mais interage. Amigo não requer pesquisa. Está no topo da sua lista. 

  

É sua prioridade absolutamente intuitiva.