Opinião

Quando vamos nos tornar prossumidores?

É hora de virar a chave

Por André Sallum
Publicado em 19 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

Embora o termo “prossumidor” tenha sido criado lá na década de 1980, pelo visionário escritor norte-americano Alvin Toffler em seu livro “A Terceira Onda”, a essência carece de urgente reflexão nos dias de hoje, quase quatro décadas após sua definição. Ainda que a expressão tenha se ramificado para definir conceitos em diferentes segmentos – tais como o marketing e a tecnologia, por exemplo –, é na etimologia da palavra que precisamos nos apegar para trazer luz à um momento capital vivido pela humanidade.

Do inglês, “prosumer” é a combinação das palavras “producer” e “consumer” (produtor e consumidor, respectivamente) e, em tese, define uma dinâmica de subsistência, ou seja, quando se consome aquilo que se produz. Até aqui, nenhuma novidade, já que este conceito é aplicado desde os primórdios da humanidade, principalmente na agricultura. Mas, diferentemente de quando por aqui chegamos, o mundo está atingindo seu limite, e gradativamente vem demonstrando sinais devastadores de saturação. O aumento das temperaturas, o derretimento das geleiras, a redução dos principais biomas no Brasil e no mundo são sinais claros de que estamos utilizando da Terra muito mais do que ela tem a nos oferecer, e não podemos cruzar os braços. Mudar os hábitos de consumo já não é mais uma tendência e, sim, a sedimentação de um caminho reparatório aos danos causados ao planeta.

A solução não é simples, mas está ao alcance de (quase) todos: por que não nos tornarmos prossumidores de nossa própria energia elétrica, contribuindo diretamente na redução dos impactos ambientais causados pelas matrizes energéticas tradicionais? Afinal, é possível gerar sua própria energia de maneira limpa e renovável, reduzindo seus custos mensais, sem investimento ou qualquer tipo de instalação de equipamento ou estrutura física no seu imóvel. Parece mágica, mas trata-se do encontro entre geografia, astrologia e doses extras de tecnologia. Por meio das Usinas Fotovoltaicas (UFV’s), diversas empresas especializadas na Geração Distribuída (GD) – modalidade regulamentada em 2012 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) –, disponibilizam o aluguel de placas solares capazes de gerar a energia necessária para suprir seu consumo. Essa energia é injetada na rede da concessionária que atende a sua região, e abatida do seu consumo mensal. Além de simples, a ação contribui não só para o seu bolso, mas também para a sustentabilidade da Mãe Terra.

Além de utilizarem exclusivamente a luz do sol como fonte de energia e apresentarem custos de implantação cada dia mais competitivos, as usinas fotovoltaicas também diminuem em aproximadamente 15% o desperdício causado pelas transmissões de energia em longas distâncias, processo ocorrido nas usinas de Geração Centralizada (GC) como as conhecidas Itaipu e Belo Monte, por exemplo. Sem falar no impacto causado pela construção de represas e na transposição de rios que atendem a essa modalidade; e, assim, pouco a pouco, alimenta-se um círculo nada virtuoso ao meio ambiente. Literalmente, é chegada a hora da mudar esta chave.

É sabido que essa transformação não se dará da noite para o dia, mas é inegável que alcançamos grandes avanços nos últimos anos. Cabe a cada um de nós adotarmos medidas mais eficazes em prol de um planeta mais sustentável, aqui, por meio da energia renovável, mas aí pode ser uma horta orgânica e coletiva, ou através do compartilhamento de bens e serviços. A verdade é que se pode ir até onde o bom senso e a imaginação levarem.

Nós somos os verdadeiros sujeitos nessa necessária reparação do mundo.

E aí, vamos nos tornar prossumidores?

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!