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Redução da fome e do desperdício

O papel das empresas

Por Rosana Blasio
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
 
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Qual o papel das empresas no combate à fome e ao desperdício de alimentos? Essa foi a pauta de um painel do qual participei ao lado de Oded Grajew, presidente emérito e conselheiro do Instituto Ethos, e de José Graziano da Silva, ex-diretor geral da FAO (agência das Nações Unidas para alimentação e agricultura), na última Conferência Ethos 360°. Relembrando as ações do programa Fome Zero, nos propusemos a avaliar como as empresas se engajaram nesse programa e como esse aprendizado pode ser utilizado para combater a fome hoje.

O Brasil, que em 2018 voltou a integrar o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), tem hoje 125 milhões de pessoas vivendo em algum grau de insegurança alimentar. Dessas, 33,1 milhões passam fome. Ao mesmo tempo, desperdiçamos aproximadamente 55 milhões de toneladas de alimentos anualmente.

Um problema dessas proporções requer soluções multissetoriais. E qual seria o papel das empresas nesse contexto? A prática ESG (ambiental, social e governança, da sigla em inglês) aponta caminhos. O “social” do ESG prevê, por exemplo, atuação em projetos e desenvolvimento da comunidade do entorno ou iniciativas que priorizem a saúde da comunidade e de seus colaboradores.

Na prática, esses conceitos podem ser traduzidos em ações simples, mas que impactam positivamente o microcosmo empresarial. Um exemplo são campanhas de conscientização para evitar o desperdício de alimentos, o uso de verduras e legumes imperfeitos na elaboração das refeições, além de projetos de educação para o aproveitamento integral de alimentos. São iniciativas que não requerem grandes investimentos, mas significam um passo importante na mudança de hábitos.

Além disso, investir em ações sociais gera benefícios tangíveis, uma vez que melhora a imagem corporativa, agregando valor à marca. Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com a consultoria CAUSE, de 2022, aponta atenção dos consumidores às notícias relacionadas às empresas. Quase a metade dos entrevistados (48%) demonstra preferência por produtos de marcas que apoiam causas, índice que cresceu 10 pontos percentuais se comparado ao de 2019.

Ações estruturadas, como doações às entidades sem fins lucrativos e ONGs, possibilitam ainda ganhos contábeis, já que há diversos incentivos fiscais.

A fome, a crise climática, a pobreza e a desigualdade social são alguns dos temas que requerem a atenção da iniciativa privada, cuja responsabilidade social deve ser internalizada pela governança e concretizada em ações.

Segundo dados de Benchmarking do Investimento Social Corporativo (Bisc), da Comunitas, em 2022 as principais empresas brasileiras destinaram R$ 4 bilhões, o equivalente a 0,8% do seu lucro bruto, para investimento social. O percentual é superior ao de 2021, estimado em 0,69% do lucro bruto.

Diante do imperativo do tempo de quem tem fome e da gravidade da crise climática, que nos impõe mudanças na nossa relação com a terra e a produção, torna-se urgente unir forças para enfrentar a fome e o desperdício.

Esse é o propósito do Pacto contra a Fome. Que, juntos e juntas, possamos criar a sinergia necessária para mudar essas duas realidades e transformar vidas

(*) Rosana Blasio é CEO Pacto contra a Fome

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