Data importante para fortalecer as discussões sobre a sustentabilidade e as relações entre o ser humano e o meio ambiente – tema central na agenda mundial –, o Dia da Árvore é também uma oportunidade para se jogar luz nas ações de recuperação ambiental inclusiva, que envolvem a participação das pessoas e a geração de renda e oportunidades no campo.

Um dos maiores projetos ambientais da América Latina, o programa de restauração florestal que vem sendo desenvolvido ao longo da bacia do rio Doce, impactada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), vive um momento de entregas consistentes. E a iniciativa aponta que sociedade e poder público, juntos, são fundamentais para a proteção e o resgate de nossas florestas. 

Um dos exemplos é a recuperação de cerca de 550 hectares em áreas de preservação permanente em Mariana, Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova, em Minas Gerais. O trabalho foi realizado em mais de 200 imóveis rurais atingidos. Foram plantadas cerca de 350 mil mudas de mais de 170 espécies florestais nativas. 

Outro exemplo é a restauração em sítios e fazendas onde não houve deposição de rejeito. Uma área equivalente a mais de 40 mil campos de futebol está sendo reflorestada, e a meta é recuperar 5.000 nascentes. 
<CW-8>Todo o trabalho passa por envolvimento dos agricultores, e cerca de 2.700 famílias de 65 municípios têm sido mobilizadas em regiões estabelecidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) e pelo estudo de priorização elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). 

Mais de 41 mil hectares passaram por diagnóstico inicial e se enquadraram como elegíveis a receber as ações de restauração florestal. Até agosto de 2023, mais da metade dessas áreas foi cercada, e 3.000 hectares receberam mudas ou sementes. Também há 3.000 nascentes sendo cuidadas, com conclusão de cercamento ou com recuperação em curso. Todas essas ações vão resultar na oferta de mais água de qualidade para a bacia do rio Doce. 

A restauração florestal movimenta uma cadeia de produção de sementes e mudas em parceria com comunidades rurais, assentamentos de reforma agrária, comunidades quilombolas, povos indígenas, unidades de conservação e ONGs. São mais de mil pessoas, em 20 municípios mineiros e capixabas. A Rede Rio Doce de Sementes e Mudas desenvolve o empreendedorismo de base junto às comunidades por meio da comercialização de produtos florestais não madeireiros e gera novas oportunidades de bioeconomia para diferentes usos da floresta. 

É por meio da parceria com instituições locais que o projeto ganha escala e impacta a vida de tantas pessoas. Até o momento, foram recolhidas mais de 30 toneladas de sementes, de aproximadamente 270 espécies nativas da Mata Atlântica. Isso corresponde à geração de R$ 4 milhões em renda. Em 2023, dez viveiros produziram 5,6 milhões de mudas de 200 espécies, gerando cerca de R$ 14 milhões em renda. 

Além de números significativos, o processo de reflorestamento realizado na bacia do rio Doce conta com dois relevantes diferenciais: a escala e a participação social. A diversidade do público envolvido e o alcance tornam esse trabalho singular. Esse engajamento faz toda a diferença para que as iniciativas se tornem realidade e sejam perenes. 

Thomas Lopes Ferreira* é Gerente de uso sustentável da terra da Fundação Renova

(*) Engenheiro florestal, especialista em economia e desenvolvimento rural, mestre em agroecossistemas. Atua com meio ambiente e desenvolvimento rural há mais de 20 anos, com experiência com organismos nacionais e internacionais.