Artigos

Trombose: anticoncepcional, reposição hormonal e fatores de risco

Avaliação clínica e de históricode saúde é necessária para uso das substâncias

Por Daniel Dias Ribeiro
Publicado em 16 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
normal

O uso de hormônios femininos, sejam anticoncepcionais ou reposições hormonais orais, é um fator de risco para a incidência de trombose, doença silenciosa que se manifesta quando ocorre a formação de coágulos potencialmente fatais nas artérias ou veias. Isso é mais frequente em pessoas que têm trombofilia, ou seja, mais propensão a formar esses coágulos. A incidência de trombose em mulheres que usam esses medicamentos orais é de 5.000 casos para cada 1 milhão.

Antes de usar anticoncepcionais e fazer a reposição hormonal, a mulher deve ficar atenta ao histórico de saúde da família e fazer uma avaliação clínica da sua condição. A investigação com exames laboratoriais está restrita a pacientes com passado de trombose ou história familiar (parentes de primeiro grau) fortemente positiva para trombose.

Há formas de fazer a reposição hormonal e de uso de anticoncepcional que não estão associadas ao aumento de risco, mas é importante ter a orientação de um especialista médico. São medicamentos importantes para as mulheres, mas elas não devem utilizá-los sem uma consulta médica.

A Covid-19 surgiu como mais um fator de risco de trombose, e, para quem usa anticoncepcional e faz reposição hormonal, ficou ainda mais importante fazer o acompanhamento. Não há indicação de suspender os medicamentos caso a pessoa tenha a Covid-19, mas é fundamental nos pacientes que se internam pela doença que a tromboprofilaxia seja realizada, ou seja: os pacientes internados devem receber drogas anticoagulantes.

A incidência de trombose nos pacientes internados nas enfermarias é próxima de 10% e naqueles que estão em CTI próxima de 30%. Ter Covid grave é sem dúvida um fator de risco importante para ter trombose. O uso de anticoncepcional oral conjugado está relacionado a um aumento significativo no risco relativo de ter trombose venosa (2 a 7 vezes maior nas mulheres que usam quando comparadas às mulheres que não usam), mas é importante lembrar que o aumento do risco absoluto de trombose venosa permanece baixo.

A taxa de incidência de trombose venosa em mulheres entre 20 e 40 anos é de aproximadamente uma para cada 10 mil mulheres acompanhadas durante um ano. Esse número sobe para no máximo para 7 para cada 10 mil mulheres acompanhada por um ano. Fica claro com os números apresentados que temos um aumento do risco relativo de sete vezes em relação às mulheres que não usam hormônio via oral, mas com um risco absoluto que chega no máximo a 0,7% por ano de acompanhamento.

Outros pontos importantes são a via de administração, o tipo do hormônio e qual é a associação estrógeno/progesterona utilizada. A literatura já é clara quanto à segurança da via transdérmica para o uso dessas drogas, especialmente da reposição hormonal. O uso dos progestógenos via oral de forma isolada também é considerado seguro. Quanto à associação estrógeno/progesterona, apesar de todas estarem associadas ao aumento no risco de trombose, as drogas que utilizam o etinil-estradiol associado ao levonorgestrel possuem um aumento no risco relativo de 2 vezes, enquanto nas outras associações esse aumento relativo do riso pode chegar a 7 vezes.

Exemplificando: um estudo publicado em 2019 na Inglaterra pela Universidade de Nottingham concluiu que: “O tratamento transdérmico (adesivo ou gel na pele) foi o tipo mais seguro de terapia de reposição hormonal quando se avaliou o risco de tromboembolismo venoso. Infelizmente, o tratamento transdérmico parece ser subutilizado, com a esmagadora preferência ainda por preparações orais”. A pesquisa da universidade britânica foi realizada com 80.396 mulheres de 40 a 79 anos com diagnóstico primário de tromboembolismo venoso entre 1998 e 2017.

Os sinais e sintomas da trombose também devem ser observados e se deve buscar o tratamento médico caso estes estejam presentes. Entre eles estão: dor ou desconforto na panturrilha ou coxa, aumento da temperatura e inchaço da perna, pés ou tornozelos, vermelhidão e/ou palidez, sensações e/ou falta de ar, dor no peito (que pode piorar com a inspiração), taquicardia, tontura e/ou desmaios.

(*) Daniel Dias Ribeiro é médico hematologista, patologista clínico e diretor do Laboratório São Paulo

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!