O Brasil, assim como o restante do mundo, enfrenta desafios substanciais no que diz respeito à adesão à vacinação. A queda na cobertura vacinal revela-se um problema complexo, abrangendo desde a escassez de insumos em algumas regiões até os desafios logísticos para o acesso às Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Adicionalmente, destacam-se o aumento dos movimentos antivacinas e a disseminação de informações falsas, gerando incertezas sobre os efeitos dos imunizantes, apesar de evidências empíricas de sua segurança, principalmente em relação à poliomielite. Outros fatores, como a falta de campanhas eficazes, o esquecimento histórico de doenças e a redução na busca ativa do público-alvo das vacinas pelos agentes comunitários de saúde em alguns territórios, contribuem para a complexidade desse desafio.
A preocupante situação epidemiológica do Brasil em relação à poliomielite destaca-se ao colocar o país como o segundo com maior risco nas Américas para o surgimento de novos casos de paralisia infantil, superado apenas pelo Haiti, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Essa avaliação nos coloca em uma iminência da doença, exigindo medidas efetivas para conter a disseminação do vírus, especialmente considerando que a poliomielite foi erradicada oficialmente no país na década de 1990, sem novas notificações de casos desde 1989.
No período de 1999 a 2015, o Brasil manteve uma cobertura média de vacinas contra a poliomielite superior à população-alvo dos imunizantes, atingindo 101,2%. No entanto, dados mais recentes, entre 2016 e 2022, sobre a cobertura de vacinas por imunobiológicos revelam que as regiões Norte (62,3%), Nordeste (64,4%) e Sudeste (67,5%) apresentaram as menores médias de cobertura vacinal. A OMS recomenda uma cobertura mínima de 95% para interromper a circulação do vírus que causa a paralisia infantil, tornando esse cenário alarmante e evidenciando a necessidade de ações imediatas.
Nesse contexto, a Fundação Abrinq lançou o Projeto Vacinação, uma iniciativa implementada inicialmente na cidade de Santos. O seu propósito é mobilizar gestões municipais, oferecer capacitações para profissionais da atenção básica e garantir que estejam adequadamente equipados para administrar as vacinas e promover a importância delas.
O compromisso coletivo com a saúde pública torna-se vital para assegurar que as conquistas alcançadas no passado não se percam, permitindo que as futuras gerações desfrutem dos benefícios proporcionados pela vacinação. A colaboração entre setores governamentais, organizações da sociedade civil, profissionais de saúde e a comunidade em geral é essencial para colocar a imunização como pilar central da saúde preventiva.
Victor Graça é superintendente da Fundação Abrinq