Junho é o mês em que celebramos a diversidade dos nossos corpos, das nossas expressões de sexualidade e gênero e tantas pautas que contornam a luta por respeito, reconhecimento e direitos da comunidade LBGTQIA+. Seguimos o exemplo de Stonewall, quando uma rebelião popular se insurgiu contra a violência LGBTfóbica da polícia de Nova York, nos Estados Unidos, inaugurando um novo ciclo de lutas pela diversidade. Cinquenta e dois anos depois daquele episódio, esta segue sendo nossa principal bandeira: o direito de ser exatamente aquilo que se é, sem ser criminalizada, perseguida ou exterminada.
Há dois anos não ocupamos as ruas com nossas paradas do orgulho e nossas músicas de festa e luta, por conta das limitações impostas pela pandemia da Covid-19. Ainda assim, nossas bandeiras permanecem erguidas, e nossa organização se amplia, mesmo ante o caos e a violência desmedida.
Organizamos campanhas de solidariedade diante da grave piora das condições de vida da população, multiplicamos nossos coletivos, ocupamos a política, fizemos importantes avanços no campo da interpretação constitucional para a garantia de direitos. Mas ainda é preciso avançar muito na proteção da vida da comunidade LGBT.
Nesse último período, passamos a lidar com outro nível de violência LGBTfóbica no Brasil. No mês passado, a vereadora do PSOL de Niterói (RJ), Benny Brioly, teve que deixar o país após ser ameaçada de morte, e infelizmente ela não é a única. Todos os dias pessoas LGBTs que ocupam cargos legislativos são alvos de ameaças e violência por parte de setores antidemocráticos, racistas e LGBTfóbicos. Também em maio, o assassinato do jovem sem-terra Lindolfo Kosmalski chocou o país. O rapaz de 25 anos era militante ativo da causa LGBT e foi encontrado com o corpo carbonizado, no dia 1º de maio de 2021, na cidade de São João do Triunfo, no interior do Paraná.
Diante do desafio de sobreviver, é preciso mais uma vez revisitar a origem do Junho da Diversidade, as lutadoras e os lutadores do Stonewall e tantas outras que vieram antes de nós e se levantaram contra a violência do Estado e da sociedade cis-hétero-patriarcal. Mulheres como Anyky Lima, que resistiu à ditadura, à pandemia do HIV e se tornou referência na construção de políticas públicas e estratégias de sobrevivência para a comunidade LGBTQIA+ de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Anyky nos deixou um verdadeiro legado de luta e resistência.
E como não falar de Rhany Merces, mulher trans, negra, que ocupou diversos espaços da organização popular e da institucionalidade, na batalha permanente por garantir sobrevivência e direitos, inspirando tantas meninas, jovens, que, como ela, sonham com a superação dos preconceitos e com a liberdade de serem que são. A essas mulheres, o nosso respeito e homenagens.
Mas, afinal, quem tem medo da diversidade? São justamente aqueles que se apavoram ao ver seu sistema de poder confrontado por existência como as nossas. São os mesmos que odeiam a pluralidade, a convivência, enquanto lhes sobram desamor e ódio. São também os que não suportam a verdade e desprezam a democracia. Sabemos que são, conhecemos seus líderes, já não nos surpreendemos com sua verborragia tóxica e seus projetos de ódio.
Mal sabem eles que a cada ataque, a cada companheira caída na luta, fortalece ainda mais a nossa decisão irrevogável de seguirmos firmes até que tenhamos todes o direito de ser e existir.