Belo Horizonte tem o segundo pior trânsito, perdendo apenas para São Paulo. Chegamos ao absurdo de passar 65 horas por ano parados. Para resolver esse problema, precisamos encarar a catástrofe que virou o transporte coletivo. Temos uma das tarifas mais caras do país e relatos cotidianos de acidentes que colocam a vida dos passageiros em risco. A falta de vontade política e de investimentos no ônibus e metrô levou nossa cidade a essa situação, que vai piorar ainda mais se nada for feito.
As soluções exigem esforço, coragem e vontade política. Quando vereadora, integrei a CPI da BHTrans, que identificou diversas irregularidades no processo de contratação das empresas de ônibus de BH. Os mesmos empresários parasitam o sistema de transporte há 50 anos! Diversos órgãos, como Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado e até a própria prefeitura, reconhecem que o contrato é fraudulento.
O poder estadual tampouco está preocupado com a questão: é ônibus que não passa no horário, caindo aos pedaços, que “chove dentro”, que pega fogo, e sabemos que essa péssima situação afeta especialmente mulheres e pessoas que moram nas periferias e precisam usar o transporte coletivo todos os dias.
Metrô cada vez pior. Vimos recentemente o anúncio de demissão em massa de 230 funcionários do metrô. Felizmente, a Justiça do Trabalho determinou a suspensão do plano de demissão e obrigou a reintegração de 8 dos 185 funcionários demitidos. Desde a privatização, o número de metroviários foi de 1.480 para 700. Apenas a equipe de manutenção sofreu um corte de 80%, passando de 60 funcionários para 12.
Além disso, durante a gestão de Bolsonaro e Zema, a tarifa saiu de R$ 1,80 para R$ 5,25. Ou seja, uma imensa parte da população não consegue pagar a passagem.
O metrô está em péssimas condições: estação inundada, vagões que são sucatas, além da demissão de trabalhadores fundamentais para a segurança. Tudo piorou no último ano, quando o metrô foi privatizado por míseros R$ 25 milhões, valor que não paga nem o terreno da sua sede.
Vivemos o caos. E agora? São muitos os problemas, mas temos propostas viáveis para transformar a situação. É preciso reformular radicalmente a concessão do transporte por ônibus, concretizando o poder do Estado sobre o sistema, com controle público da bilhetagem, garagens e remuneração do serviço e fazendo licitações distintas para fornecimento de veículos e operação. A ampliação e a reestatização do metrô também devem ser prioridades. Tudo com integração física e tarifária entre os sistemas de transporte.
Também precisamos reduzir o valor da tarifa. A gratuidade universal, conhecida como “tarifa zero”, é uma realidade em diversas cidades brasileiras. Nossa proposta é reduzir a passagem e criar gratuidades gradualmente até que existam condições para que o transporte seja gratuito para todos e todos os dias.
Moradias perto do transporte. Vários lugares do mundo estão aplicando estratégia Dots (Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável) para criar cidades mais justas. O objetivo é aproximar áreas de moradia e oportunidades de emprego por meio de incentivo ao adensamento próximo aos corredores de transporte. Isso faz com que mais pessoas acessem o transporte e o tempo de deslocamento seja reduzido. O Plano Diretor de BH já conta com essa diretriz. Precisamos garantir que seja cumprido!
Em BH, temos áreas no entorno do metrô, como o corredor da avenida dos Andradas, que estão abandonadas e podem ser transformadas em áreas de equipamentos públicos, de cultura, de lazer, de moradia social, entre outros.
As soluções existem! Precisamos priorizar esses projetos no Orçamento da cidade e fazer com que eles virem realidade.
BELLA GONÇALVES
Deputada estadual de Minas (PSOL)