Imagine conviver diariamente com os ruídos de aviões aterrissando e decolando enquanto você cozinha, conversa com a família, assiste à TV ou tenta descansar. Imagine ir trabalhar com medo de um avião atingir sua casa ou um acidente machucar seus filhos ou vizinhos. Essa era a realidade dos moradores da região do Aeroporto do Carlos Prates por décadas até o dia 1º de abril, quando o espaço foi desativado pela Infraero.

Após essa grande vitória, a cidade inteira se pergunta o que será feito com a área. Qual será o destino dos 547 mil metros quadrados localizados em região estratégica de Belo Horizonte?

Propostas

Surgiram diversas propostas: desde a privatização, defendida pelo governador Romeu Zema – o que seria um completo absurdo –, até a criação de um sambódromo. Mas o que devemos de fato considerar são as reivindicações dos moradores da região e as necessidades da cidade.

Desde a década de 80, vários parlamentares, movimentos sociais e associações de bairro lutavam insatisfeitos com os barulhos e riscos da atividade aeroportuária. Sem dúvidas, uma atividade importante, mas que chocava com o crescimento da própria capital e a consolidação de um bairro residencial na região.

Acidente

A discussão sobre desativar o aeródromo intensificou depois de um novo acidente com uma aeronave de pequeno porte que atingiu duas casas, causando a morte do piloto. Dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontam que, desde 2012, o aeroporto Carlos Prates registrou 39 acidentes e incidentes dos mais aos menos graves.

Além da destinação do aeródromo, evidentemente, também é necessário debater o suporte às pessoas que ali trabalhavam, evitando o fechamento de postos de trabalho e garantindo a continuidade dos cursos que são oferecidos no local. Mas há o entendimento já consolidado do governo federal de que as atividades não podem continuar. Essa decisão foi inclusive respaldada pela Justiça, que negou o pedido dos aeroportuários que tentaram reverter a desativação. Outros locais, longe de centros urbanos e áreas residenciais, são mais adequados para escolas de voo e para pequenas aeronaves.

Moradia acessível

Acompanho os debates e os movimentos na pressão pela desativação do aeródromo desde quando era vereadora. Agora, enquanto deputada, participei de audiências públicas na Assembleia Legislativa para ouvir diversos setores sobre o destino da área. Meu mandato está mediando diálogos com a Prefeitura de Belo Horizonte sobre alternativas de destinação do espaço. Sabemos que há o desejo de construção de parques e áreas culturais por parte dos moradores que são os maiores impactados pelas atividades do aeroporto.

Há também a indicação de movimentos sociais para que aquela região, um terreno público e bem localizado, sirva como moradia para famílias de baixa renda. Atualmente, Belo Horizonte tem um déficit habitacional de 78 mil moradias e a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, com priorização para famílias de baixa renda, torna a oportunidade ainda mais promissora.

Ressignificação

A área pertence à União, que já sinalizou que irá repassá-la a BH. Na última semana, o prefeito Fuad Noman se reuniu com representantes do governo federal e reafirmou a destinação do local para casas populares, parques e equipamentos públicos. A prefeitura tem até o fim de maio para apresentar o projeto.

Belo Horizonte tem agora a oportunidade de ouro de ressignificar um local que representou tanta dor, sofrimento e mal-estar à população, em um espaço de promoção de direitos, por uma cidade onde caibam todos. Mas isso só será possível com muita transparência e ampla participação popular.