Pelo fato de o Galo estar gastando muito, montando elenco espetacular, bastante gente, incluindo jornalistas, cravam que o clube anda seguindo caminho semelhante ao “projeto” celeste que naufragou, colocando o Cruzeiro num calvário inimaginável. As diferenças não poderiam ser mais gritantes. Em primeiro lugar, óbvio, necessitamos salientar a principal disparidade: os 4 “R’s” são personagens de condutas éticas totalmente ilibadas; empresários gigantescos que construíram suas fortunas sem quebrar os preceitos da integridade em nenhum momento. Sabemos que na derrocada azul o cenário não se materializou assim. Portanto, para começo de conversa, existe uma discrepância na seara da intenção que, para mim, já se consolida como a maior distância entre os dois planejamentos – se é que na gestão Wagner/Itair algo digno desse nome desnudou-se.
Tecnicismo
Detalhe relevante: apuro assiduamente como cada instituição opera internamente. O Atlético, sobretudo pelas intervenções de Rafael Menin, um craque da estirpe de Messi, mantém departamento de monitoração de atletas cuja sofisticação revela-se provavelmente inigualável no Brasil. Trocando em miúdos: há seriedade e nível intelectual, profundidade de estudos no alvinegro que inexistia integralmente no Barro Preto. Poucas vezes testemunhei um presidente tão despreparado quanto Wagner. Seu conhecimento de futebol era zero. Itair flutuava num empirismo atrapalhado, e exalava uma aura anti-intelectual cristalina. Pesquisa na Toca naquela época: nula.
No escuro
É claro que o Galo quer ganhar títulos e, em certa medida, inclui nas suas contas esta possibilidade, a chance de faturar com premiações, com os frutos colhidos com a exposição de uma marca de sucesso. A sustentabilidade, porém, não depende disso. O que o Cruzeiro fez se enquadra num tipo de gamble incrivelmente irresponsável. Pior: mesmo se equivocando numa aposta no escuro, o time faturou a Copa do Brasil. A gastança fluía tão desenfreada que a bolada abocanhada com esta conquista evaporou.
Mecenato
No nosso país, fala-se de mecenato sem qualquer conhecimento de causa. Falta de cultura, carência deste expediente em diversas alçadas. Quando vamos ao Louvre, ao MoMa, à galeria Borghese para nos hipnotizarmos com os geniais Caravaggios, em algum lugar dessas catedrais, encontramos a lista de colaboradores que tornam estas preciosidades possíveis. O que eles são? Mecenas. Se pessoas físicas e/ou empresas desejam concretizar algo análogo com clubes de futebol, a diferença não é essencial.
Paulo Nobre
Paulo Nobre recebe infindáveis – e merecidos – elogios por ter salvado o Palmeiras, pela sua generosidade com sua paixão. Um dos maiores presidentes da história do alviverde. O que ele realizou? Colocou dinheiro para pegar de volta lá na frente sem prazo determinado, sem juros. O expediente que o competente cartola criou em São Paulo é basicamente o mesmo que a família Menin estabeleceu em Belo Horizonte. A dissimetria primordial se desvela somente no montante.
Sorte
No fundo, a despeito das infinitas elucubrações, o Galo simplesmente deu sorte de ter gente tão rica disposta a ajudar o clube.
Parecido
O Flamengo sofreu para se estruturar? Sim. Este estoicismo com os privilégios que o rubro-negro ganha, convenhamos, é mais fácil.