A cidade de Porto Alegre, recentemente devastada pelas águas do Guaíba, há muito convive com enchentes, agravadas pela urgência climática e pela geografia peculiar da região. Localizada em uma planície, a capital gaúcha – limitada de um lado por montanhas e do outro pela orla fluvial do lago Guaíba – tem uma altitude média de 10 metros. Nesta última tragédia, as fortes chuvas e tempestades com ventos, além de impactar o lago, também afetaram o oceano Atlântico, impossibilitando o escoamento da água pelo mar. 

Essas explicações são importantes para que possamos entender a dinâmica dos acontecimentos e lutar por políticas públicas reais de prevenção, mas podem criar a falsa ilusão de que outras cidades, como Belo Horizonte – distante do mar e cuja altitude média gira em torno de 850 metros –, estão a salvo de um desastre de grande magnitude. A urgência climática não poupará ninguém.

A capital mineira está sujeita a outras situações geográficas intensificadas pela ação humana que favorecem enchentes e deslizamentos de terra em caso de chuvas fortes, como as que já estão previstas para o próximo verão em Minas Gerais. Belo Horizonte soterrou boa parte de seus rios e criou uma barreira de prédios para o vento que sopra de sua serra mais famosa, fazendo da cidade uma ilha de calor pouquíssimo permeável. Soma-se a isso anos de uma política precária de moradia, o que favoreceu a ocupação irregular de encostas.

Por aqui, em todo início de ano, centenas de pessoas são atingidas pelas enchentes, com casos de deslizamentos, desabamentos e alagamentos em pontos recorrentes de desastres na cidade, como nas avenidas Tereza Cristina, Cristiano Machado, Vilarinho, Clóvis Salgado e Heráclito Mourão de Miranda. Por vezes, vidas inocentes são também perdidas. 

Obras realizadas

É necessário reconhecer a eficácia das obras realizadas pelas gestões Kalil e Fuad que otimizaram sistemas de drenagem e construíram bacias de prevenção de enchentes. Obras que poderiam ter avançado ainda mais se a Câmara Municipal de Belo Horizonte não tivesse negado à prefeitura, em 2021, cerca de R$ 1 bilhão para intervenções em prevenção de enchentes, fato celebrado nas redes sociais pelo então vereador Nikolas Ferreira (e constantemente relembrado por seus desafetos).

É necessário, no entanto, entendermos que, com o crescimento do nível pluviométrico a cada estação chuvosa, essas foram obras apenas emergenciais. O investimento público precisa ser direcionado para a construção de outro modelo de cidade, mais consciente, mais verde, mais permeável, no qual a promoção da justiça urbana ande de mãos dadas com uma política austera e audaciosa de proteção ambiental. Vale dizer que estamos falando da capital do Brasil que mais aqueceu em 2023, aumentando em inacreditáveis 4,23°C sua temperatura média.

Na Câmara de BH, estamos dando passos ainda tímidos, mas significativos. No ano passado, lamentavelmente, a Casa rejeitou, por disputa política, projeto do Executivo que criava o Plano de Emergência Climática da cidade. Por outro lado, neste ano, a CMBH aprovou o Plano Municipal de Informações e Monitoramento de Catástrofes, projeto de lei do vereador Bispo Fernando Luiz. Tenho a felicidade de ser coautora dos projetos de lei que reconhecem o valor paisagístico, ecológico e cultural das matas do Planalto e do Jardim América, já aprovados, e do projeto que obriga a prefeitura a avisar previamente sobre os cortes de árvores, ainda em debate na Casa. 

Respondendo à pergunta: Belo Horizonte é uma cidade bastante diferente de Porto Alegre, mas também está sujeita a catástrofes climáticas, e precisamos, com urgência, nos preparar para elas. Não existem soluções simples.