O mundo assiste estarrecido à escalada do conflito no Oriente Médio, que se soma à guerra na Ucrânia fazendo ressoar o perigo de uma guerra mundial de grandes proporções. Trump, Netanyahu e Putin são senhores da guerra e anseiam por novas divisões territoriais globais. Querem que as bombas ditem o destino do nosso tempo e se fortalecem na retórica da militarização e da crise permanente, pois sabem que é na crise que a extrema direita cresce, com suas falsas soluções.

Neste contexto sombrio, Lula se projeta no cenário internacional como o maior líder pacifista do mundo. No início do mês, em debate na Academia Francesa sobre o verbete “multilateralismo”, ainda não dicionarizado na França, disse o presidente: “a grande inovação introduzida após 1945 está sintetizada no sufixo ‘ismo’, acrescentado à palavra ‘multilateral’. Essa terminação traduz a intenção não apenas de descrever uma realidade, mas de incidir sobre ela. (...) A emergência da palavra multilateralismo traz em si a aspiração de uma ordem internacional diferente daquela que a precedeu. A criação da Organização das Nações Unidas está umbilicalmente ligada à determinação de evitar que as atrocidades cometidas no passado se repitam”.

Gaza e G7

E é justamente a incapacidade do mundo de parar Netanyahu, e também Trump e Putin, que vem simbolizando a fragilização dos acordos internacionais e da ONU. O genocídio em Gaza – reescrita bizarra da história nazista e que alguns teóricos e ativistas vêm chamando, inclusive, de holocausto – marca a descrença de que um arranjo global possa ser capaz de proteger os povos de seus líderes sanguinários. “É o momento de devolver o protagonismo à ONU", disse o presidente do Brasil na reunião ampliada do G7, realizada na semana passada.

Neste mesmo encontro do G7, Lula enfatizou, como sempre costuma fazer, a relação entre paz e justiça social. “Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam. Gastos militares consomem anualmente o equivalente ao PIB da Itália. São US$ 2,7 trilhões que poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa (...). Em Gaza, nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra”. Em novembro de 2024, o governo Lula lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa com o objetivo de erradicar a fome e a pobreza até 2030, alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A iniciativa teve a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e ONGs.

Justiça global

Na Academia Francesa, onde se tornou o segundo brasileiro homenageado na história da instituição, após Dom Pedro II, Lula reafirmou, ainda, sua visão sobre o papel da justiça global em tempos de conflito. “É insustentável manter ilhas de paz e prosperidade cercadas de violência e miséria”, afirmou, em mais um gesto que sintetiza seu esforço por reposicionar o Brasil como uma voz ativa na construção de um mundo menos desigual e menos bélico.

Diante do barulho ensurdecedor das bombas e da indiferença que mata pelo silêncio, não há espaço para a neutralidade. O mundo está diante de um dilema profundo: ou seguimos alimentando a lógica da guerra, do medo e da morte, representada por líderes que fazem da violência seu projeto de poder, ou ousamos acreditar em outra forma de habitar o mundo. Eu acredito em Lula e no caminho que ele aponta. 

Sua voz, firme e serena, rompe o coro dos belicistas e nos lembra que a paz não é utopia, mas urgência. Que justiça social é condição para o diálogo. E que multilateralismo não é apenas um termo técnico, mas um gesto de fé na humanidade. Defender essa visão é, hoje, mais do que uma escolha política: é um compromisso com a vida.