Mais um ‘quase’ para a seleção feminina de vôlei, superada pela Itália na decisão da VNL neste último domingo. É a quarta medalha de prata do Brasil em sete edições da competição, em derrotas para os Estados Unidos duas vezes (2019 e 2021) e mais duas para as italianas (2022 e 2025).

O sentimento do vice é agridoce. De imediato, é amargo, e as partes ruins são mais evidentes que as lições. De cabeça fria, é possível entender as sensações doces. Para mim, existem as notícias boas e as ruins. Quais vocês querem primeiro?

Notícias boas

Entre as coisas boas (ou incríveis!), impossível não destacar a atuação de Julia Bergmann (24 anos), Julia Kudiess (22 anos) e Marcelle (23). Apesar das idades, jogaram como experientes, e a líbero, então, que ganhou oportunidade somente na reta final, a agarrou com unhas e dentes. Seus primeiros jogos com a seleção adulta foram impressionantes, e ela apareceu nas estatísticas finais em terceiro lugar como melhor defensora. Isso tudo sem citar a qualidade de passe, que fez a diferença. Baita e agradável surpresa.

Além disso, Julia Kudiess. Só o nome já é suficiente nesse caso. A temporada de retorno à seleção após lesão gravíssima no joelho parece até roteiro de filme esportivo, daqueles que a gente pensa ‘não tem como isso ser realista’. Foi realidade.

Melhor bloqueadora com sobra (63), e atuação que vai muito além das estatísticas. Retornou em altíssimo nível, sem deixar margem para questionamento, mostrando ser uma das principais jogadoras em atividade na posição. Deixou de ser uma das principais promessas há tempos, mesmo com só 22 anos.

Chegamos na final. Outra boa notícia. Decidir o título é sempre uma boa notícia, principalmente com boas atuações. Nos últimos vices (Tóquio-2020, VNL-2022 e Mundial), o difícil foi esquecer as atuações ruins, bem abaixo do esperado. Dessa vez, não.

Oscilou um pouco, é verdade, mas o Brasil não fez um jogo ruim. Brigou e lutou contra uma Itália que, sinceramente, é acima da média. Tirar Egonu e entrar Antropova é brincadeira…. Estamos chegando perto, incomodando mais, lutando em alto nível. Ainda falta aquele último parafuso para apertar.

Agora as más notícias

Chegamos na final. Sim, o Brasil vive um dos maiores 'jejuns' de títulos internacionais de sua história com o elenco principal. O elenco ter qualidade para chegar em decisões importantíssimas, como VNL e Mundial (títulos que ainda não tem), além de Jogos Olímpicos, mostra que não falta material humano, então, o que falta?

Temos jogadoras decisivas, como Gabi, que é sim uma das melhores do mundo na posição, mas ela não é o tipo - como é Egonu e Bošković, por exemplo - que carrega o time sozinha. Por isso, não dá para chegar na decisão contando com isso. Uma hora a pressão para decidir bate, e Gabi, como contra a Itália, acaba tomando decisões desfavoráveis. A cabeça pesa e o corpo não responde. Normal, mas é no jogo coletivo que brilhamos mais.

Agora, mais uma dúvida do que qualquer outra coisa. Ou não temos nenhuma oposta jogando minimamente bem, ou algo muito complexo está acontecendo. Só na fase final, o Brasil viajou com quatro opostas (Jheovana, Tainara, Rosamaria e Kisy), mas mexeu muito pouco. As levantadoras, por exemplo, tiveram pouco tempo em quadra se estavam mal, mas com as outras, não.

Entendo a necessidade de tentar gerenciar uma situação de lesão da Ana Cristina, que possivelmente faria com que uma oposta precisasse ser improvisada como ponteira, mas isso não aconteceu. Inclusive, na hora das inversões, quem entrou como oposta foi justamente Helena, a única ponteira disponível para jogo. Não sei vocês, mas na hora, fiquei sem entender.

A situação ficou ainda mais estranha quando Kisy, oposta que mal teve chance ao longo do campeonato, foi a escolhida para entrar ‘na fogueira’ e tentar resolver o jogo contra a Itália. Ela tem qualidade, principalmente no bloqueio, sabemos disso, mas quando acionada, o jogo já estava bem fora de controle da seleção. Esforço válido, mas timing ruim.

Para mim, posição de oposta é a principal pedra no sapato no caminho das pratas brasileira. Não por acreditar que não temos jogadoras para desempenhar o papel, mas por simplesmente não entender qual é a estratégia da seleção para a posição. A VNL pode ser ‘laboratório’, é verdade, mas sabemos que todo mundo queria o título.

Vamos para o Mundial.