O futebol feminino ainda sofre, isso é visível. Os ataques à modalidade colocam, nós que somos amantes, em posição constante de defesa. Me incluo nesse meio. Por vezes, sinto que preciso defender a seleção feminina o tempo inteiro, mas, o que fazer quando o resultado passa a ser indefensável?
Muitos no Brasil vivem essa mesma relação delicada com o futebol feminino. Por um lado, a luta é constante e necessária, e ainda falta muita, muita coisa. Como não se tem o apoio e a visibilidade que gostaríamos, precisamos exaltar, chamar atenção e amplificar sempre o lado positivo. A questão principal evidenciada hoje em uma eliminação vergonhosa é que os percalços da modalidade não podem servir de muleta para o trabalho medíocre de Pia, que, nesta manhã, coroou um ciclo desastroso.
A técnica sueca chegou em um momento em que a CBF finalmente olhou para o futebol feminino com um pouco mais de carinho e investiu, ainda que o mínimo, para a seleção caminhar com suas próprias pernas em vez de ter aquilo que 'sobrasse' do futebol dos homens. As expectativas foram altas, e o Brasil, eterno otimista quando se trata do esporte mais popular, esperou muito. Só que não vimos o que esperávamos, e ela teve quatro anos para trabalhar com o grupo.
Na Olimpíada de Tóquio a eliminação veio em um jogo feio e frustrante. Aquele empate sem gols contra o Canadá, com jogadoras brasileiras improvisadas em diversas posições e decisão por pênaltis fracassada, já deixou gosto amargo na boca. Contra a Jamaica, dois anos depois, a despedida foi em um jogo ainda mais feio e ainda mais frustrante.
Jogadoras habilidosas pareciam engessadas e sem criatividade, e a característica do 'futebol brasileiro alegre' ficou lá na primeira rodada. O plano A não deu certo, e o plano B? Não vimos. Precisando vencer para avançar, a técnica só olhou para o banco, composto por atletas que ela mesma convocou, a 10 minutos do apito final. E aí era tarde demais para esperar que jovens de 22 anos fizessem o milagre que colocaria o Brasil nas oitavas.
Perder dói e incomoda, mas a passividade frente à derrota iminente foi muito pior. Pia já havia dado indícios no ciclo, mas evidenciou nesta Copa do Mundo que não convoca, treina, substitui, direciona e planeja como uma técnica que a seleção brasileira precisa, independente de ser ou não abraçada pela maioria; independente de ter ou não outras questões que ainda precisam de melhoria e investimento.
O futebol feminino ainda precisa de muito. No Brasil, com raríssimas exceções, clubes só investem na modalidade pela obrigatoriedade, e aqueles que odeiam e fazem questão de deixar isso claro ainda são muitos. Então, nós, amantes do futebol feminino, seguimos tendo muito o que defender, mas também precisamos cobrar, criticar e analisar com seriedade. Que separemos as coisas. As dificuldades da modalidade ainda existem, mas não podem servir de muleta para um trabalho que não funciona.