O desenvolvimento da aspirina revolucionou o tratamento da dor e da inflamação. Abriu caminho para o desenvolvimento de outros analgésicos. Também iniciou uma mudança na forma de entender a dor.
A dor é um sintoma, uma forma de nosso corpo expressar que algo não está bem.
Tivemos também um marco nessa história: o desenvolvimento da morfina, isolada em 1804 e usada pela primeira vez para tratamento de dores intensas, agudas e crônicas.
Começou a ser comercializada em 1827 e, em 1899, se popularizou por causa da facilidade de administração depois da invenção da agulha hipodérmica.
Dessa época até hoje, muito se fez para tratar a dor; porém, criaram-se outros medicamentos a partir dessas duas bases.
Outras classes de medicamentos com outras funções foram “emprestadas” para o tratamento da dor: são eles anticonvulsivantes, antidepressivos, relaxantes musculares e corticosteroides.
E, a partir daí, tem-se todo o espectro de medicamentos para dor. Mudam-se os nomes, mas se altera pouco a base. Vez por outra, a indústria farmacêutica se assanha para apresentar um novo produto, mas, invariavelmente, estamos presos à mesma base, mudando apenas um radical. Ou seja, são parentes… ou uma roupa nova em um produto velho – com muito sensacionalismo.
Melhoram-se alguns efeitos colaterais, tempo de duração, via de administração. Mas, no final, estamos no mesmo lugar.
O Brasil é um dos países que mais consomem analgésicos. Recentemente, surgiu uma nova classe de medicamento que pode colaborar para o alívio da dor: a Cannabis.
Desde 1960, investiga-se uma nova substância, o CBD (canabidiol), que em 2010 ganhou popularidade.
Refere-se que tem propriedades de reduzir inflamação, ansiedade e algumas formas de epilepsia.
Hoje existe um grande entusiasmo em torno do CBD. Tudo em medicina tem várias fases; à medida que se usa um produto e o tempo vai passando, vamos percebendo seus riscos e efeitos colaterais, e também se tem a possibilidade de ir lapidando o produto e tornando-o mais confiável.
No início, é tudo empolgação. Mas o que fica é uma nova possibilidade para tratar dores. Porém, ainda assim, estamos falando de uma medicação que reduz sintomas.
Quando se trata de dor, as causas acabam sendo muito negligenciadas, exatamente porque existem remédios que suprimem os sintomas. Ou seja, que reduzem o desconforto e acabam gerando uma zona de conforto para o paciente.
O maior problema de estruturarmos o tratamento da dor apenas no alívio dos sintomas é que os problemas que originaram as dores continuam piorando, e chega um momento em que podem causar problemas ainda mais sérios que as dores.
Sou grata aos medicamentos que reduzem as dores, mas lamento que não saibamos usá-los com racionalidade.