A vida é movimento, e a qualidade de vida, mais ainda. Principalmente quando pensamos no paciente idoso, o movimento é vital; pequenos períodos de sedentarismo já são capazes de causar um dano que demandará um longo processo de reabilitação.

Quando me refiro a um pequeno tempo em inércia, não pretendo criar pânico; traduzo essa fala como: repouso absoluto por pelo menos 72 horas ininterruptas.

Esse período já é suficiente para aumentar significativamente os riscos de distúrbios de coagulação, como trombose e embolias, mas também reduz a força muscular e compromete a densidade óssea.

Estive recentemente em contato com uma paciente que afirmou não querer realizar uma cirurgia de coluna porque teria de ficar muito tempo em repouso. Disse que não suportava o tédio e ficar parada.

Juntas, buscamos uma solução funcional para seu problema, que envolveu fisioterapia e movimento diário, nenhuma loucura. Às vezes, uma simples caminhada até o supermercado já era o suficiente para trazer mais funcionalidade ao seu corpo.

De uma maneira “torta”, ela acabou escolhendo um caminho que a protegeu até mesmo da necessidade de outra cirurgia.

Afirmo com muita convicção que cirurgias para dores não agudas, ou seja, dores que não representam um risco iminente à vida, devem ser a última opção, depois de termos esgotado todas as propostas de intervenção. Isso vale para todos, mas principalmente para o paciente idoso.

Não é raro que um idoso previamente ativo, após passar por um período de repouso prolongado, inicie um processo de decadência musculoesquelética, que interfere até mesmo em pequenas atividades, como fazer compras ou mesmo se deslocar dentro da própria casa.

Essa desorganização musculoesquelética predispõe à queda, o que pode levar o paciente a uma necessidade real de ficar acamado, e isso facilita os processos de adoecimentos, como pneumonia, refluxo e, consequentemente, broncoaspiração, engasgos, infecções urinárias, alterações emocionais pela falta de convívio e atividade... Condições que podem até mesmo levar a óbito.

A percepção do declínio pelo paciente também gera um impacto que não pode ser ignorado. Focamos muito no sintoma do corpo e comumente esquecemos o impacto mental que pacientes impossibilitados de se locomover enfrentam.

A perda de contato com amigos, a dissolução da rotina, a dependência total do outro... tudo isso entrega ao indivíduo a sensação de que o fim da vida realmente está próximo, faz com que exista uma perda de desejo de lutar pela plenitude.

Reitero: movimento é qualidade de vida, é também parte de nossa identidade. Precisamos lutar para que ele seja possível em todas as etapas da vida.