Dra. Meira Souza

Hérnia: um mal inevitável?

Fraqueza muscular e excesso de gordura

Por Dra. Meira Souza
Publicado em 09 de julho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Uma das dores mais difíceis de serem documentadas são as dores musculares.

Não existe um exame simples que consiga categorizar um problema que seja exclusivamente muscular.

Estamos acostumados com medicina baseada em evidências, e ela muitas vezes é insuficiente para contemplar todas as queixas. Pensamos que, para nosso incômodo ser validado, ele precisa estar documentado em uma imagem.

Explicar ao paciente que ele tem um problema muscular também não é muito simples.

Muitos pacientes que têm hérnia de disco tratam apenas a hérnia, e alguns até a operam, mas permanecem com dor e não compreendem o motivo.

O diagnóstico de hérnia de disco é muito conhecido, e isso não ocorre sem motivo. Esta é uma condição que acomete até 40% das pessoas ao longo da vida, com pico de incidência entre os 50 e os 60 anos. Topograficamente, predomina na coluna lombar. 

A prevalência dessa condição está aumentando e pode ser explicada tanto pela maior sensibilidade dos exames de imagem quanto por mudanças comportamentais e envelhecimento da população, além do nosso maior estado de sedentarismo proveniente da pandemia. 

Muitos de nós sabem que hérnias discais causam dores muito fortes, mas nem sempre uma dor forte é uma hérnia de disco. Nosso corpo é revestido por músculos que possuem em suas extremidades tendões que os conectam aos ossos e têm muitos motivos para doer.

Os músculos doem por sobrecargas mecânicas, por inflamações crônicas, hospedam dores reflexas nas patologias radiculopáticas, doem por contraturas mantidas nas sarcopenias e muito mais...

No entanto, é sempre muito desafiador falar para o paciente que a dor provém dos músculos, sem parecer que estamos diminuindo sua expressão de dor, como se a musculatura não fosse uma estrutura que pudesse ter uma dor intensa.

Muitas vezes, quando o paciente queixa-se de dor lombar ou de lombalgia, ao solicitar um exame de imagem e não encontrar uma alteração do disco ou do osso, ele acaba recebendo uma receita de um anti-inflamatório, e o diagnóstico de lombalgia e seu tratamento se finalizam nesse ponto.

Contudo, nesses exames também podemos perceber a musculatura paravertebral desqualificada, comumente com uma grande proporção preenchida por gordura. Como a gordura não tem capacidade para sustentar a coluna, o peso gravitacional do corpo que não se distribui corretamente e provoca uma pressão muito maior, e essa condição, se não for bem conduzida, com certeza se tornará uma hérnia.

Por isso, muitas vezes recebo pacientes indignados, com histórico de dor há anos e que finalmente foram diagnosticados com uma hérnia, acreditando que aquela hérnia sempre esteve lá e que somente não fora vista.

Ao olharmos mais para o paciente do que para os exames de imagem, vamos perceber as possibilidades de reduzir a assustadora estatística de hérnia de disco e todo sofrimento que ela causa.

Dra. Meira Souza é médica e escritora

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