Quanta comida é comida demais? O estômago suporta um conteúdo médio de 900 mL, mas sua estrutura é elástica, e ele aumenta à medida que recebe quantidades maiores de alimento. Ele chega a uma quantidade de 1.500 mL com muita facilidade. Quando isso ocorre, comer mais que o necessário fica muito tentador, já que, com a repetição desse hábito, ele vai se fixando em um tamanho maior que consequentemente precisa de mais comida para se satisfazer.

Para resolver esse “alargamento” do estômago, muitas pessoas se submetem a um procedimento conhecido por cirurgia bariátrica, uma operação para reduzir o estômago que surgiu inicialmente para tratar adoecimentos do estômago, como úlcera e tumores.

Com o passar dos anos, foi notado que, quanto maior era a redução do estômago, mais o paciente emagrecia, e logo essa cirurgia começou a se popularizar como um facilitador da perda de peso. O que era uma solução para casos de obesidade severa agora está disponível para adolescentes a partir dos 16 anos. Os efeitos colaterais dessa operação são inúmeros: anemias, desnutrição proteica, risco aumentado de osteoporose, maior tendência ao alcoolismo, sarcopenia...

É inegável que a cirúrgica bariátrica pode mudar a vida da pessoa que vive todos os efeitos colaterais, não somente físicos, mas sociais e afetivos da obesidade. Mas, como médicos, também precisamos compreender que este procedimento é extremamente agressivo e estressante para o corpo, devemos focar nossos esforços e conhecimentos em preservar o paciente, e não apenas esperar até que ele esteja pesado o suficiente para justificar a operação.

Optar pela cirurgia bariátrica é, na maior parte das vezes, apenas trocar de problema. A maior parte dos operados que recebo apresenta dores provenientes de deficiências nutricionais. O estômago já não tem mais eficiência para absorver nutrientes, em casos mais graves, nem mesmo a suplementação oral é o bastante para reverter a desnutrição, e é necessária fazer reposição venosa.

Para prevenir esses casos, é necessário aprofundar nosso entendimento do que é uma boa alimentação.

Somos acostumados a pensar em alimentos como calorias e considerar que apenas isso será um fator “engordante”. Quanto maiores as quantidades daquilo que ofertamos, mesmo que pouco calóricas, como refrigerantes diet, mais relaxado o estômago vai ficando, e cada vez mais comida será necessária para fornecer sensação de saciedade.

A boa notícia é que, da mesma forma que o estômago relaxa, ele faz o caminho inverso à medida que a quantidade de comida vai sendo gradualmente reduzida. Vale lembrar que, mesmo se reduzido cirurgicamente, se o estômago for novamente exposto a muito volume, voltará a se dilatar.

Se perceba com carinho, coma até se sentir satisfeito, mas não se force a terminar nenhum prato. Entender seus limites é um passo essencial para a autopreservação.